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Filha de Glauber Rocha lança disco e escreve com exclusividade para o UOL

UOL Música

12/03/2015 17h24

foto ava rocha

Ava Rocha
Especial para o UOL

Ava Patrya Yndia Yracema é meu nome de batismo. Acrescentado pelos meus sobrenomes Gaitán, da minha origem colombiana, e Rocha, de minha origem baiana. Era também, na minha infância, incrementado por mim com Pedra. Eu falava rapidíssimo: avapatryandiayracemagaitánrochapedra. Isso, acrescentado do fato de meus bisavós serem judeus da Ucrânia e Chekslovakia, regiões de guerra, que fizeram com que eles aportassem no Brasil, tivessem minha avó Dina que, emancipadérrima, foi estudar cinema em Paris nos anos 50 e conheceu meu avô, o poeta e intelectual colombiano Jorge Gaitán Durán, fundador da fundamental revista de literatura latinoamericana Mito.

Desse encontro nasceu minha mãe Paula Maria Gaitán Moscovici. Já minha avó Lúcia, era de Vitória da Conquista, sertão semi-árido da Bahia. Mãe de meu pai Glauber, declamava Castro Alves e, orgulhosa, o poema que fez no meu nascimento: "ava eva iva ova uva". Na adolescência, fui Asa, Ada, Eva, Ana, Aba, tudo menos Ava. Patrya Yndia Yracema, quase nunca. Salvo pelo meu amigo Pedro Bronx que me chama de Yracema e um conhecido colombiano com o qual cruzava pelas ruas bogotanas que me chamava de Patrya. Eu gosto quando me chamam dos meus outros nomes, porque me reconheço neles, juntos e separados.

Minha mãe me queria Ave, o que despertou em meu pai a lembrança de seu avô Antonio Vicente Andrade, cujas iniciais A.V.A cunharam a fachada da casa onde meu pai nasceu. Quando meu pai foi me registrar, voltou com Patrya Yndia Yracema, esse último um anagrama de Ameryca e a virgem dos lábios de mel, índia, dessa pátria Brasil, pátria-Ava, mulher, terra e também água em sua origem persa, e também espirito de homem em Mayra, romance de Darcy Ribeiro, e ainda Avá Canoieiro, tribo indígena para a qual eu canto em meu show entoando "Canoa, Canoa", de Nelson Angelo e gravada por Milton Nascimento.

Daí o desejo de evocar esses nomes que são potência, num Brasil que, para mim, não tem fronteiras. Na minha fortaleza pessoal, o encontro com o meu amor Negro Leo, noir enfant, guerrier africain, nascido no Maranhão, filho de Lindomar e filho de Jorge, devoto de São Jorge, nascido e criado em Manguinhos. Então, a luz, nossa filha Uma, a unidade, o encontro nela mesma de tanta gente, de tantos lugares. Uma semente da mestiçagem. Então veio o Jonas com seu poder mágico e transformou o sonho em realidade. Abriu os caminhos da mata e do mar para eu passar, com meus cantos, minhas rezas, minhas imagens.

capa ava rochaAo lado dos meus amigos, todos os músicos e compositores, que criaram essa obra conosco. Domenico, Bruno, Thomas, Pedros, Benjão, Claudinho, Joana, Thiago, Marcos, Antônio, Leandro, Danilo, Rafa, Callado, Ricardo, Bubu, Everson, Aquiles, Daniel, Glauco, Henrique, Vitor, Luiz Augusto, Negro Leo e Jonas, que também fez os arranjos com o Daniel Vasques. Martin Scian, sempre do lado, é o responsavel pela gravação e mixagem do disco que escancarou a beleza do que eu agora já chamo de filme. A master é do experiente Ricardo Garcia, e a capa, das artistas Maíra Senise e Celina Kuschnir. O disco foi feito graças a generosidade e a paixão pela música que essas pessoas têm, e as portas abertas do estúdio Maravilha 8.

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Convido então vocês a galoparem por essa floresta deserta, por esse mar na mata, pela luz na escuridão, pela estrada que se estende como um raio atravessando o disco. Oferto esse disco como evocação às forças tão importantes, como o amor, a política, a maternidade, a negritude, o sexo, a liberdade, a poesia, a ancestralidade, o gozo, a solidão, a imaginação e a criatividade.

No mais posso dizer que acredito que o Brasil está vivendo um momento importante, de transformações, e não poderia deixar de ser diferente o meu desejo de dar acesso a minha música a todos, incentivando outros modelos para a industria fonográfica a exemplo de outros companheiros da música. Acredito no download free, nas outras plataformas e oxalá venham outras, cada vez mais livres. De longe o mundo é ideal mas todo dia luto um pouco por isso. Temos que aproveitar toda a tecnologia e os nossos meios à disposição. Meu maior interesse é ir em encontro com meu tempo, com as pessoas, sem muros, de preferência perto do verde, em cidades parques, com água, festa e cultura.

Sobre o Blog

Este é o blog oficial do UOL Música Deezer. Com ele, nós da equipe e nossos colaboradores podemos nos comunicar com os ouvintes, sugerindo, informando, divulgando e discutindo tudo que diz respeito ao universo musical. E é claro, ouvindo o que vocês têm a dizer. Ouça, leia e comente!

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