Topo

Histórico

Categorias

Lemmy Kilmister: o vencedor que nasceu para perder

UOL Música

29/12/2015 15h54

Motorhead1

Brian Robertson, Lemmy Kilmister e Phil "Philthy Animal" Taylor

Por Ricardo Batalha, do Roadie Crew

'Nascido para perder, viva para vencer' era o lema de Ian Fraser "Lemmy" Kilmister, falecido aos 70 anos de idade em seu apartamento, em West Hollywood (CA), nos Estados Unidos. Mas, o baixista e vocalista fez bem mais que isso. Não só venceu como se tornou um ícone para diversas gerações de fãs e músicos das mais variadas vertentes do Rock. Inexplicavelmente, sua voz rouca e o som distorcido de seu baixo atingiram a todos e o Motörhead se tornou aquele tipo de banda que consegue agradar gregos e troianos. "No fim das contas, é tudo Rock'n'Roll. Nós somos uma banda de Rock'n'Roll", afirmava Lemmy, fã declarado dos Beatles, de Little Richard, Buddy Holly, Eddie Cochran e Elvis Presley.

Clique aqui para ouvir os clássicos do Motörhead

Nascido a 24 de dezembro de 1945, em Stoke-on-Trent, Staffordshire (ING), contrariou os estereótipos do 'rockstar' típico. Tinha um senso estético peculiar e uma aparência pitoresca, incluindo bigode e as costeletas grandes, as verrugas no rosto, os chapéus, as tradicionais botas de montaria, os cintos de balas de armas de fogo e os adereços militares – era grande colecionador de itens e entusiasta da Segunda Guerra Mundial.

A simplicidade e o curioso modo de vida foram mostrados no documentário "Lemmy: 49% Motherfucker, 51% Son Of A Bitch" (2010), incluindo sua adoração pela máquina caça-níquel Mega Touch, que costumava jogar no lendário Rainbow Bar and Grill, localizado na Sunset Strip, em West Hollywood. Quando ele se foi, vítima de um câncer que havia descoberto apenas dois dias antes de seu falecimento, estava diante da mesma máquina, que saiu do Rainbow e foi levada para sua residência, apenas algumas quadras de distância do local onde era frequentador assíduo. Aliás, Lemmy tinha virado símbolo do Rainbow. Lá diziam: "dê a ele uma garrafa de Jack Daniels e um maço de cigarros e ele nunca mais sairá da frente desta máquina".

Na adolescência, vivia pedindo moedas para jogar caça-níquel, mas o apelido Lemmy não veio pela expressão que repetia com frequência ('lemmy a fiver'/'lend me a fiver'). Passou a ser chamado assim aos dez anos de idade, quando se mudou com sua mãe e sua avó para a Ilha de Anglesey, no País de Gales. Antes visto como "aquele cara que não fala" e que tinha tudo para ser um derrotado, virou um porta-voz do Rock, liderando uma banda íntegra e que quebrou barreiras. A foto que estampa a capa de "No Sleep 'til Hammersmith", lançado em 1981 após a turnê que promoveu o clássico "Ace of Spades" (1980), traduz o espírito do Motörhead ao vivo: paredes de amplificadores, iluminação especial com o 'bomber' (bombardeiro), ases de espadas nas peles dos bumbos e os músicos mais barulhentos do mundo em perfeita sintonia empunhando seus instrumentos.

Lemmy

Lemmy em apresentação com o Motorhead, em Curitiba, neste ano

Àquela altura, ele já tinha carreira consolidada e diversos clássicos gravados, entre eles Leaving Here, Motörhead, Louie Louie (versão para a música de Richard Berry), Overkill, No Class, Bomber, Stay Clean, Metropolis, The Chase Is Better Than the Catch e Ace of Spades. Antes do Motörhead, havia passado por diversos grupos, como Deejays (Sundowners), Motown Sect, The Rockin' Vickers, Sam Gopal, Opal Butterfly e, a mais notória, Hawkwind, com a qual ficou de 1972 a 1975 e registrou a faixa que deu nome à sua própria banda. Motörhead esse, aliás, que atualmente promovia "Bad Magic", o 22º álbum de estúdio de sua discografia.

Lemmy começou na música como guitarrista e costumava fazer bicos como roadie, inicialmente somente para entrar sem pagar nos shows. Depois, já residindo em Londres, arrumou um colchão no chão do apartamento de um amigo chamado Neville, que trabalhava como roadie para a The Jimi Hendrix Experience. Noel Redding, baixista de Hendrix, era quem dividia o apartamento com Neville. Assim, Lemmy se tornou carregador e ajudante da banda nas apresentações em território britânico. Posteriormente, uma de suas composições, (We Are) The Road Crew, faixa de "Ace of Spades", foi dedicada aos roadies. "Nós realmente somos uma família, que viaja e trabalha juntos. A ligação é grande", declarou.

De alguma forma, Lemmy foi empurrado para seu destino. Ele queria que sua banda tivesse o nome Bastard, mas foi desencorajado pelo empresário Doug Smith, com quem trabalhara no Hawkwind. Também não queria ser baixista e vocalista, mas o fez para evitar problemas com a formação de seu grupo. Não queria ser visto como exemplo para ninguém, porque tinha hábitos não convencionais e se envolveu com álcool e drogas, mas foi chamado de "Deus". Não queria ser encarado apenas como músico de Heavy Metal, que dizia ser o "filho bastardo do Rock'n'Roll", mas acabou se tornando ícone do estilo.

Com sua banda, chamada certa vez pela revista Sounds como a "Melhor 'Pior' Banda do Mundo", lançou 22 discos de estúdio, 9 trabalhos ao vivo, 4 EP's, 29 singles, 10 coletâneas e diversos vídeos, DVDs e clipes. Estava debilitado e com problemas de saúde causados pelo excesso de álcool e drogas, mas não queria se aposentar. Achava que ia morrer aos 35 anos de idade, mas faleceu com o dobro disso, coincidentemente pouco mais de um mês após a morte do baterista Phil "Animal" Taylor, que fez parte da formação clássica da banda.

Não importa a linha musical, a extensa lista dos que reverenciam o trabalho de Lemmy e do Motörhead vai de Metallica, Sepultura, Girlschool, Krisiun, Overkill, Sodom e Destruction a Ramones, Foo Fighters, Mudhoney, Discharge, Ratos de Porão e Cockney Rejects. De Drowning Pool, Dropkick Murphys e Pretty Boy Floyd a Bathory, Satyricon e Entombed. Lemmy estava certo. No fim das contas, é tudo Rock'n'Roll. Ian "Lemmy" Kilmister (1945-2015) nasceu para perder e, com certeza, viveu para vencer. Mas, fomos nós que ganhamos com sua obra.

Sobre o Blog

Este é o blog oficial do UOL Música Deezer. Com ele, nós da equipe e nossos colaboradores podemos nos comunicar com os ouvintes, sugerindo, informando, divulgando e discutindo tudo que diz respeito ao universo musical. E é claro, ouvindo o que vocês têm a dizer. Ouça, leia e comente!

Blog UOL Música