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“A polícia já está matando crianças de 10 anos”, critica rapper Dexter

UOL Música

19/07/2016 16h11

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Prestes a lançar mais um álbum na carreira, o rapper Dexter apresentou no começo de julho o single "Me Perdoa", com participação do cantor Péricles. Escrita durante sua passagem no Carandiru (o músico ficou preso por 13 anos), o rapper apresenta uma visão de um dia de visitação no presídio e um pedido de desculpas à mãe.

Além de falar de "Flor de Lótus", Dexter também deu opinião ao UOL sobre o atual momento do hip-hop, a infância nas comunidades mais pobres e o jogo político em que o Brasil se encontra.

UOL Música Deezer: Fale um pouco do single "Me Perdoa" e da escolha de Péricles para fazer uma participação especial

Dexter: Eu escrevi a música em 2003 e gravei no ano seguinte para a coletânea "Consciência Black". Mas o disco não andou, não sei, teve um problema de comunicação mesmo. Então, acabou desperdiçada e eu sempre a considerei muito importante, porque ela conta uma situação ainda atual.

A versão original não tinha refrão, mas eu decidi que teria uma roupagem nova. O Péricles é um monstro da nossa música, ele vai bem em diversos estilos e a voz dele é sensacional! A intenção era atualizar o som para 2016. Antigamente a gente trabalhava muito limitado, o que não era ruim, mas por que não fazer com que a gente consiga mostrar o que aprendeu na música, sabe? É inovar e renovar.

Como vai ser o álbum "Flor de Lótus"? Vão ter músicas com nova roupagem também?

"Flor de Lótus" retrata o final do exílio e o começo de uma nova vida. Ele retrata minha liberdade. Algumas músicas eu já tinha gravado e outras só cantava ao vivo. Algumas músicas também são inéditas, mas elas são minorias. Todas vêm com uma nova roupagem, para o público se surpreender.

Assim como o Péricles, você chamou outras artistas para participar do projeto?

Eu chamei o Gilson (cantor que fez sucesso na década de 1970 e 1980, conhecido principalmente pela música "Casinha Branca"), eu procurei o cara e trouxe ele para cantar. A discografia dele é maravilhosa e é um cara super humilde, que considera muito o rap e vê como uma fórmula de escape da juventude. Também trouxe o Katinguelê e o Péricles, como já falei. Uma participação muito legal foi do Dr. Jaime (juíz que assinou o pedido de liberdade do cantor), que lê a sentença de quando fui solto. A sétima música é um interlúdio da transição do exílio para a liberdade. E claro, não teria como, chamei Edi Rock (Racionais MC's) e a última música eu divido com o Ed Mota. É um disco que bate e circula nos 4 cantos.

Por que você sempre prefere falar 'exílio' do que 'prisão'?

Quem está preso é o cara que está preso de alma e corpo. Quem acompanha o raciocío de Gandhi sabe que "existem homens presos na rua e livres na prisão". Muitas pessoas estão presas no cotidiano, entende? Então, eu apenas estava distante, mas não aprisionado.

Falando um pouco da situação da periferia hoje em dia, você acha que o jovem tem mais oportunidade atualmente do que quando você era criança nos anos 1980?

[Com a internet], as crianças hoje estão mais rápidas do que as crianças dos anos 80. Mesmo assim, dentro da periferia ainda é deficiente, então temos que cuidar melhor, até porque o processo de rapidez faz com que as crianças desviem do caminho do bem muito mais rápido. A internet está aí, sempre veloz em tudo. E é complicado isso, porque a polícia no Brasil já está matando criança com 10 anos, sabe?

Como você vê o crescimento do rap e do hip hop nacional?

É um processo natural, o rap brasileiro é o melhor do mundo. Eu vi uma pesquisa feito nos Estados Unidos que o rap é a música mais ouvida no mundo! O rap é uma empresa e o hip hop salva vidas.

Tantos outros nomes merecem palmas também, fazendo com o que gênero crescesse cada vez mais. O rap ainda é alvo de preconceito, muita gente vê como música de marginal, bandido. E é mesmo, mas também pode ser de todo mundo.

O que você acha desse momento político conturbado que estamos vendo na política brasileira?

Ali ninguém é bobo. Eu sou totalmente contra do que aconteceu, não sou a favor desse presidente, não me representa. O PT errou muito com a juventude preta e periférica. Mas a Dilma foi eleita com 54 milhões de votos, eu vi a chamada democracia ferida, muito ferida. Sou um cara democrático. Sou da democracia, eu vi um golpe acontecendo, uma constituição sendo rasgadada .

Para mim é um golpe, mas eu também vejo como culpa do próprio PT. Não se põe um inimigo dentro de casa, não é mesmo? Primeira coisa que ele [Michel Temer, presidente interino] fez foi acabar com o Ministério da Cultura. Não me representa.

Rodolfo Vicentini
UMD

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