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Tom Zé e Arrigo Barnabé estão no álbum de estreia do Os Amanticidas; ouça

UOL Música

11/08/2016 14h43

Amanticidas

A banda paulistana Os Amanticidas acaba de tirar do forno seu álbum homônimo de estreia. Formada em 2012, o grupo conta com os integrantes Alex Huszar (baixo e voz), Joera Rodrigues (bateria), João Sampaio (guitarra, cavaquinho, bandolim) e Luca Frazão (violão de sete cordas).

Misturando diferentes estilos, mas claramente influenciados pelo lado mais vanguardista da MPB dos anos 70 e 80,o quarteto recebeu dois convidos especiais no trabalho: Tom Zé e Arrigo Barnabé. O nome do conjunto também remete à mesma tendência, veio de "Amanticida", música que Itamar Assumpção gravou em 1983 no disco "Às próprias custas S.A".

Com um trabalho fundamentalmente autoral, a banda também gosta de musicar poemas de poetas como Carlos Drummond de Andrade e Paulo Leminski.

O show de lançamento do álbum acontece nesta sexta-feira (12) em São Paulo, na Serralheria, ponto de encontro de fãs dos lados mais vanguardistas da MPB e do rock atualmente na cidade.

Leia a entrevista exclusiva que Os Amanticidas deram ao UOL Música Deezer:

Do que fala o álbum de estreia de vocês? Ele tem algum conceito musical ou temático?

O álbum não tem um tema único em termos de narrativa, não conta uma só história. As letras são independentes entre si, mas tem em comum um tom um pouco mais triste, ainda que sem perder o humor. O principal, e que na verdade nós mesmo só fomos reparar depois da gravação, é que tem uma certa tensão que aparece em várias letras entre o espaço privado, a introspecção, a angústia, e o espaço público, a rua, a feira. O projeto gráfico do disco tem tudo a ver com essa característica, inclusive.

Como foi o processo de composição, gravação e produção do disco?

O processo de composição na verdade tem duas etapas. As canções em estado bruto cada um compôs em momentos diferentes dos últimos anos; algumas foram até feitas antes de a banda existir.

A segunda etapa, que no nosso processo é a mais importante, é a do arranjo. Os arranjos foram todos feitos coletivamente, em muitas horas de ensaio, pra chegar no resultado que está no disco. As canções saem completamente diferentes do que chegaram quando quem compôs mostrou pros outros pela primeira vez. Pra nós não dá pra dissociar o arranjo da composição como se fossem duas coisas totalmente separadas, até porque é nele que a gente coloca com mais atenção os elementos que escolhemos a partir das nossas influências. Ou seja, o que tem no nosso trabalho de Itamar e Tom Zé, pra ficar nas duas maiores referências, está muito mais nos arranjos no que em outros aspectos das canções.

A parte de gravação e produção foi muito tranquila, por dois motivos: a gente se preparou bastante antes, e quando chegou pra gravar teve ali o Paulo Lepetit e o Leonardo Nakabayashi, duas pessoas e profissionais incríveis, pra fazer tudo fluir ainda mais naturalmente.

Como surgiu a oportunidade de gravar com os mestres Tom Zé e Arrigo Barnabé? Como vocês relacionam o trabalho deles com a proposta de vocês, se consideram herdeiros da concepção vanguardista dos dois?

Surgiu a partir do Paulo Lepetit, produtor do disco, que é do Isca de Polícia, que acompanhou o Itamar Assumpção por uma boa parte da carreira.  Ele ouviu as músicas e logo pensou e fez acontecer duas participações que acabaram caindo perfeitamente dentro das músicas, de um jeito que a gente não podia nem imaginar. E ainda mais de dois ídolos nossos, caras que estão ali no topo da nossa lista de referências.

A gente não se considera herdeiro de nada. Claro que estamos nos apropriando de certa forma de um legado incrível que foi deixado por essa geração da Vanguarda Paulista, mas não temos a pretensão de continuar o que eles começaram ou nada do tipo, até porque a maior parte deles ainda está aí na estrada, lançando trabalhos ótimos. O Tom Zé então nem se fala, todo ano lança coisa nova, e nova no sentido forte, ele se recusa a se repetir. Isso sim é uma grande inspiração pra nós, mas justamente por isso não achamos que faz sentido isso de ser herdeiro. Você só é herdeiro de algo que morreu, acabou, e não é o caso com esses caras.

Vocês veem um caminho de modernização para a MPB? Ainda faz sentido existir uma diferenciação entre a música brasileira e o rock?

Talvez não um só caminho, talvez nem necessariamente de "modernização", mas o fato é que tem muita gente boa por aí fazendo trabalhos originais, criativos, competentes. E não só no conteúdo, mas também, o que é muito importante hoje, nos meios de distribuir e divulgar esse trabalho.

E sobre essa diferenciação, achamos que se ela algum dia existiu, gente como Os Mutantes já trouxe abaixo há muito tempo.

Como será a produção dos shows? Qual é o repertório, só as músicas do álbum ou algo mais?

Vamos ter shows em CEUs e casas de show em São Paulo, em festivais no interior e um no Rio de Janeiro. O lançamento aqui na capital é essa sexta-feira (12) na Serralheria, um lugar sensacional onde já tocamos e vimos muitos shows.

O repertório tem todas as faixas do disco, claro, mas também podem entrar algumas versões que fizemos pra canções de alguns desses nossos ídolos, como Tom Zé, Itamar e Jards Macalé.

O trabalho é muito autoral, mas também vocês apresentam versões musicadas de poemas. Qual a importância de mestres como Drummond e Leminski nas letras que vocês fazem?

São importantes, referências também. O Leminski inclusive fez letras e teve muitos poemas musicados pelo próprio Itamar, assim como a Alice Ruiz, mulher dele. Eram parceiros, tem tudo a ver.

Vocês são fãs de grandes nomes da música brasileira. Como é versar entre diferentes estilos?

A gente não pensa tanto as influências em termos de estilos, exatamente. Não é bem "aqui vamos tocar um samba, aqui um baião, aqui um rock". Tentamos, na medida do possível, ouvir de tudo com atenção pra perceber elementos, por menores que sejam, que podem ser interessantes. Aí buscamos o melhor jeito de encaixar esses elementos, principalmente no processo de arranjo. Várias vezes fomos em algum show juntos e no dia seguinte, ensaiando, tentamos imitar ou reproduzir alguma coisa bem pontual que ouvimos pra colocar num trabalho nosso, meio num processo de colagem.

Então no disco você tem, por exemplo, uma cancão do Talismã, sambista da Camisa Verde e Branco, e no nosso arranjo sobrou pouca coisa que soe remotamente como um samba tradicional.

Show de lançamento do álbum "Os Amanticidas"
Quando:
Sexta-feira, 12/08, 22h30
Onde: Serralheria – Rua Guaicurus, 857, Lapa
Quanto: R$20

Rodolfo Vicentini

Sobre o Blog

Este é o blog oficial do UOL Música Deezer. Com ele, nós da equipe e nossos colaboradores podemos nos comunicar com os ouvintes, sugerindo, informando, divulgando e discutindo tudo que diz respeito ao universo musical. E é claro, ouvindo o que vocês têm a dizer. Ouça, leia e comente!

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