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Xaxado Novo mistura cultura árabe e nordestina em álbum de estreia; ouça

UOL Música

29/08/2016 17h01

Xaxado Novo 2

Banda Xaxado Novo resgata a tradição nordestina (Divulgação/Guilherme Castoldi

O grupo Xaxado Novo resgata a rabeca e zabumba em uma formação tradicional do baião. O trabalho de estreia do grupo, "Sertão Cigano", financiado a partir um crowdfunding, apresenta a conexão do som característico do oriente com a música típica do nordeste brasileiro.

Formado pelos músicos e pesquisadores Felipe Gomide (Rabeca, Voz e Cordel), Marcus Simon (percussão e voz), Bruno Duarte (Zabumbas e Voz) e Davi Freitas (Violão e Voz), a banda falou com o UOL Música Deezer sobre a a fusão de ancestralidade e experimentações.

Nesta quinta-feira (1), o Xaxado Novo faz um show especial na Galeria Olido, em São Paulo, para apresentar o álbum "Sertão Cigano".

Como vocês planejaram o álbum "Sertão Cigano"? Ele conta alguma história específica ou cada música tem o seu contexto?

Como também desenvolvemos uma linha de pesquisa na música cigana e oriental, através das bandas Orkestra Bandida e Yaqin Ensemble (Coletivo Tarab), foi fácil identificar diversos elos entre a música do oriente islâmico com a música nordestina.

Hoje sabemos que diversos instrumentos, como a própria rabeca e a zabumba, têm origem no Oriente (rebab, davul), além de ritmos como o Halij, Cocek e Karachi, que lembram muito o baião e o xaxado, mas que não se encontram na música tradicional portuguesa, e sim na música árabe e cigana. A ideia do disco foi justamente explicitar essa influência, e aproximar essas culturas tão próximas e ao mesmo tempo tão distantes.

Como aqui no Sudeste nós não temos tantas referências do estilo musical tradicional do Nordeste, qual a originalidade da banda com relação aos outros grupos?

Como sabemos, Luiz Gonzaga virou fenômeno nacional quando estava no Rio de Janeiro, pela Rádio Nacional, e viveu grande parte da sua vida na região Sudeste. Numa cidade como São Paulo é possível sair para dançar forró de segunda a segunda, assistindo os maiores expoentes do gênero. Temos uma infinidade de restaurantes de comida nordestina, Casas do Norte, sem contar as centenas de milhares de cearenses, pernambucanos, potiguares, paraibanos, vivendo na cidade. A cultura nordestina é muito viva em todo o Sudeste.

A ideia do Xaxado Novo foi justamente pegar toda essa maravilhosa influência e colocar os temperos cosmopolitas que a cidade de São Paulo nos traz todos os dias. E por isso o disco traz esse caráter universalista, mergulhando à fundo na regionalidade, mas se deixar de colocar elementos estéticos de variadas regiões do mundo, com o uso de instrumentos como o piano, clarinete e flauta transversal, e diversos efeitos sonoros e psicodelias adicionados pelo produtor Buguinha Dub, que mixou o CD. Tudo isso torna o trabalho do Xaxado Novo bem original.

Como vocês tiveram contato com instrumentos tão típicos, como a zabumba e a rabeca?

Como dissemos, a cultura nordestina é muito presente na cidade de São Paulo, e como músicos sempre tivemos contato com a zabumba, triângulo, pandeiro, ganzá, etc. Já a rabeca, que é um instrumento ainda bem pouco divulgado, tivemos o primeiro contato em viagens para o Nordeste, com o falecido Mestre Salustiano, e posteriormente com os fandangueiros da região Sudeste do Estado. O fandango caiçara é uma manifestação tradicional do litoral sul de São Paulo e norte do Paraná, que também utiliza a rabeca, e através de diversas viagens para a região de Cananeia pudemos adquirir uma rabequinha, e conhecer mestres como Zé Pereira e diversos tocadores que muito nos influenciaram.

Cada integrante do grupo tem uma formação diferente? Como vocês se juntaram para formar a banda?

Todos os integrantes tem formações diferentes, que vão do Turismo, Direito e Circo à Musicoterapia. A música foi o que nos uniu, pois todos já tinham seus projetos musicais e tocavam profissionalmente na noite paulistana. O grupo surgiu do interesse em trabalhar com a música nordestina, que era uma paixão em comum, e principalmente da amizade, pois já nos conhecíamos e frequentávamos os mesmos círculos sociais.

De onde surgiu a ideia de trabalhar com literatura de cordel? Com relação às músicas, o grupo inteiro compõe?

A ideia de trabalhar a literatura de cordel foi pelo contato com a obra do grande mestre Patativa do Assaré, que pudemos conhecer mais profundamente durante nossa primeira missão de pesquisa cultural, na cidade de Crato, ao sul do Ceará. A riqueza das formas poéticas e a sinceridade da poesia matuta foi algo que nos emocionou profundamente e, ao voltar da viagem, decididemos contar em forma de cordel como foi a nossa aventura. Assim surgiu o primeiro cordel do grupo: Xaxado Novo no Sertão. Quanto às músicas, todos do grupo compõem, e tivemos a alegria de poder gravar no disco as nossas composições.

Quais as dificuldades em trabalhar com um som mais regional e tradicional com o do Xaxado Novo?

As dificuldades se dão principalmente por questões técnicas, como a sonorização de instrumentos tão rudimentares como a rabeca, pifanos, e as percussões, o que exigem sempre um trabalho delicado. Ao adentrar num universo tão tradicional como o do forró, com centenas de bandas, mestres e referências, também é preciso manter um trabalho de pesquisa muito sério, para que haja o verdadeiro reconhecimento, e por isso sempre tratamos com o máximo respeito todos os grupos e mestres que constroem diariamente esse universo tão belo e único que é mundo do forró pé de serra.

Serviço:

Xaxado Novo na Galeria Olido

Quando: Quinta-feira (01/09)
Local: Galeria Olido (Av. São João, 473 – Centro)
Horário: 20h
Preço: R$ 20,00 – Inteira / R$ 10,00 – Meia

Sobre o Blog

Este é o blog oficial do UOL Música Deezer. Com ele, nós da equipe e nossos colaboradores podemos nos comunicar com os ouvintes, sugerindo, informando, divulgando e discutindo tudo que diz respeito ao universo musical. E é claro, ouvindo o que vocês têm a dizer. Ouça, leia e comente!

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