Daniel Medina aterriza em São Paulo com seu single “Nós ao vivo”
Por Daniel Perroni Ratto*
Existem pessoas universais, conectadas com o etéreo, sintonizadas com as ondas de energias primordiais. A música, penso, é ponto de intersecção dessas entidades. Vivendo as adversidades do nosso tempo, transpassando pela urbanidade e as raízes áridas de uma seca bucólica, experimentando outras concepções artísticas, como novos mutantes, desabrocham as cores das notas musicais, percebem o tato das melodias, as dores do mundo, criam sonoridades ímpares.
Com uma voz solar e dissonante, performance insinuante, a palavra forte como um retirante nordestino, o talento pulula pelos arranjos de Daniel Medina. Cabra cearense que conheci em São Paulo.
Aqui, na terra da garoa, o movimento é frenético. Os encontros acontecem como se fossem num acelerador de partículas. A cena é dinâmica. E colaborativa. Quem chega, é recebido por quem já tem uma correria. As parcerias funcionam como simbioses. Entre copos de cerveja e noites frias de Sampa, faz-se poesia, nascem músicas. E amizades.
Numa dessas noites, estive no lendário Apê 80, lugar essencial da cena independente. Cobertura de um edifício no bairro da Bela Vista. Muitos amigos celebrando os encontros. E lá estava Medina e "Nós ao vivo". Todos vivos. O sintetizador de Yuri Kalil chega para nos situar no grau de tensão. Daniel flutua com seu violão em cadências estelares. A psicodelia está garantida nas guitarras de Bruno Rafael. A cozinha soa harmoniosa no contrabaixo de Milton Ferreira e nas baterias de Yuri e Pepeu. Para abrir a mente, um coro finaliza a viagem e como um tapa bem dado no pé do ouvido, nos traz à realidade.
Cada qual com seu mote, enfrentando os perigos. Sem paredes, divagando nos voos dos pássaros, percebemos o alvorecer. E nesses estranhamentos da vida, vimos que a lua teimava em resistir, paralela ao sol. Quem nasce, quem morre? Quem aparece, quem se esconde? Onde está a razão? E apesar da nossa pequenez perante o todo, ainda descobri que o single foi produzido lá no Ceará, pelo Yuri Kalil, no Totem Estúdio.
Daniel Medina é sangue novo na cena brasileira, é talento puro. Aqui chegou. Chegou aqui. Já que chegou, está aqui. Veio pra ficar.
*Daniel Perroni Ratto é poeta, jornalista e músico. Autor de livros como: "Urbanas Poesias" (Fiúza ed, 2000), "Marte Mora em São Paulo" (A Girafa, 2012), "Marmotas, Amores e Dois Drinks Flamejantes" (Patuá, 2014) e "VoZmecê" (Patuá, 2016). Participou das bandas Loco Sapiens, Criolo Branco e Luz de Caroline.
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