Projeto Canção Brasileira ensina técnica vocal com proposta inclusiva

Raquel Gaboardi é a Maestrina idealizadora do Projeto Canção Brasileira, uma iniciativa inclusiva e gratuita que pretende valorizar a música. "O objetivo é divulgar a música brasileira erudita para canto coral", resume a cantora da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP).

A ideia começou com um simples post no Facebook, que logo atraiu centenas de pessoas. "A condição para participar seria enviar um vídeo cantando o que a quisesse e, caso fosse selecionada, faria parte do projeto". Mais de 200 pessoas mandaram vídeos tentando participar do programa, muito mais do que as 80 que Raquel tinha imaginado.

"Classifiquei os vídeos em 3 níveis: aquela pessoa que tem um talento extraordinário; o 2º é aquele que tem um timbre bonito, mas precisa de orientação; e o 3º precisa de muita orientação e muito cuidado para aprender o básico". A intenção era convidar não necessariamente pessoas que estudassem canto lírico, mas que "gostassem de cantar e que tivessem o potencial enorme", completa.

Entre tantos talentos, Raquel selecionou 100 pessoas para seu projeto. "Como é gratuito, todos têm um compromisso comigo. Eles terão aulas de percepção musical, vão educar a voz, terão aulas de teoria online, além das aulas de percepção, mas precisam ter 70% de frequência e mostrar rendimento. Cada aluno tem o direito de ficar 1 ano no coro, mas há uma avaliação para saber se houve evolução".

O lado inclusivo entrou depois, ao divulgar em uma rádio que tinha pretensões de ampliar o projeto. "Eu chamo de um papel social, porque eu também queria que fosse um trabalho inclusivo. Eu pesquisei no Youtube alguns coros, mas eu achei um trabalho quase terapêutico, como se tivesse subestimando o talento das pessoas com deficiência".

Raquel Gaboardi é a idealizadora do projeto (Divulgação)

"Eu deixo bem claro no projeto que, para mim, inclusão não é abrir um clarão para introduzir pessoas com deficiência. Para mim, é competir em igualdade com um outro que não tem deficiência. Se você cantar mal, você não vai entrar. É simples. Por exemplo, acabamos de receber dois cantores com deficiência visual que arrasaram. É essa a ideia".

Raquel pretende conseguir um coro com 40 cadeirantes, além de um coro com deficientes visuais e outro de surdos. "Quando eu era nova, no Rio de Janeiro, trabalhei uma época com um coral de surdos e era muito bonito. A proposta é um coro grande e quem traduz são os surdos em libras. Eles vão trazer o público surdo, que não pode ir a um concerto".

Foi na Rede Lucy Montoro que Raquel achou o local perfeito para reunir seus alunos, cuja 1º aula tem início neste sábado (10). "Sabe criança na Disney? Me senti assim depois que vi o local e toda a infraestrutura". O primeiro desafio já está planejado para o final do ano, quando os alunos interpretarão a canção "Completo", da Ivete Sangalo.

"A Ivete fala assim no refrão: Imagino um milhão de sorrisos/ cada um com seu jeito de ser/mas ligados ao mesmo destino/um amor feito eu e você… eu acho que essa música reflete a filosofia do projeto", conclui.