Primeira DJ mulher do Brasil, Sonia Abreu fala de música e preconceitos
UOL Música
12/02/2016 16h51
Primeira DJ do Brasil, Sonia Abreu ainda está na ativa e comanda as pickups todo fim de semana (foto/Gabriel Rinaldi)
"Antes eu sofria preconceito por ser mulher – e ainda sofro. Agora, para completar, sofro preconceito por ser velha", conta a bem-humorada Sônia Abreu. A apresentadora do programa Ondas Tropicais, do UOL Música Deezer, acaba de ser lembrada pelo site Music Non Stop como uma das DJ's mais importantes do país, acumulando trabalhos no top 10 dos álbuns mais importantes da música eletrônica nacional.
Sonia foi a primeira DJ mulher do Brasil, começando a trabalhar com rádio em meados da década de 1960. Mas antes, ainda na infância, a música sempre fez parte da vida da família Abreu. "Quem me influenciou muito foi a família do meu pai. Eu ficava em um balanço lá em casa, enquanto ele ouvia música o dia todo, então eu entrava em transe. Ele ouvia de Chopin a Nelson Gonçalves, Moreira da Silva, músicas italianas, era muita coisa. E meus tios cantavam, tocavam violão, era uma festa sempre", relembra a DJ.
Trabalhou na Excelsior como produtora musical, de 1968 a 1978, quando lançou a coletânea "A Máquina do Som", que vendeu milhares de unidades. Grande parte das músicas presentes na série eram compradas no exterior, já que demoravam até anos para alguns produtos chegarem aqui. "Para eu conseguir músicas (importadas) para tocar nas discotecas e boates, a gente tinha que fazer gambiarra com os pilotos de avião, porque chegava tudo atrasado. Então os pilotos e as aeromoças eram os traficantes de música da época."
As história de Sonia não acabam. A DJ virou referência para tantos jovens da década de 1970, como Kid Vinil, que, em entrevista recente ao UOL, lembrou da primeira vez que ouviu David Bowie, justamente no programa "A Máquina do Som", em 1972.
Ainda na década de 1970, Sonia abriu a Papagaio Disco Club, uma das primeiras discotecas do Brasil. Na década seguinte, a DJ criou a primeira rádio móvel do país, com um sofisticado sistema de som. O primeiro point foi a rua Augusta, quando uma multidão se agrupava ao redor da kombi para ouvir grandes sucessos e os lançamentos da música eletrônica.
E foi em um desses lançamentos que Sonia recebeu um globo de ouro pela música Automatic Lover, de D.D.Jackson, a primeira música eletrônica do Brasil. "A diferença pros outros lançamentos é que esse eu não coloquei na rádio. Coloquei direto na televisão. Como a D.D. Jackson era alemã, chamei uma amiga parecida com ela e criamos um robô também. Foi a maior loucura!".
Já nos anos 1990, popularizou a world music no país, com o programa "Ondas Tropicais – A Música do Quarto Mundo" e, como se não bastasse, fundou sua própria banda do gênero. A Banda Do Quarto Mundo contava com 22 integrantes, mas claro que a principal era Sonia, a vocalista. O grupo fez sucesso e chegou a dividir palco com Jimmy Cliff e Margareth Menezes.
Para Sonia, a principal diferença entre ser DJ hoje e nas décadas anteriores é a facilidade com a qual qualquer música pode ser encontrada, entretanto a qualidade se perdeu. "Para mim, a questão é a do áudio. Você pode ouvir qualquer música em um fone simples, com o arquivo todo comprimido. E na verdade, o som é algo muito mais além se não transformar e comprimir. Essa geração não conhece o que é, de fato, uma qualidade de som."
Como tantas outras, a profissão de DJ está sucateada. Com inúmeros artistas recebendo uma bolada para tocar em festas e produtores que se arriscam nas pickups, muitos veem a profissão com maus olhos. "Mas a questão não é se está sucateada ou não. Se você tiver conhecimento musical e se dedicar 24 horas por dia, vai se sobressair", analisa Sonia, que não tem preconceito e toca de tudo, do sertanejo ao funk. "Depende do que o cliente pedir. Eu entro em qualquer parada. Toco sertanejo, funk carioca, Wesley Safadão. Eu tenho sempre que ir atualizando o som".
Sonia admite que o caso de amor com a música é maior do que tudo. "Na verdade, eu já nasci para ser o que sou mesmo. A música que me faz um navegador. É a única coisa que eu fiz, sabe? Não tive família, nem filhos, nem nada. É a coisa mais importante da minha vida", conclui a DJ.
Rodolfo Vicentini
UMD
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