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"Pagam $10 um café, mas não gastam com música", conta banda Oto Gris

UOL Música

04/03/2016 16h47

OTO GRIS

Oto Gris: Davi Serrano, Victor Bluhm e Jonas Gomes(foto/Haroldo Saboia)

O power-trio cearense radicado em São Paulo lançou em outubro do ano passado o primeiro trabalho de estúdio. Formado por Davi Serrano (vocal e guitarra), Jonas Gomes (baixo) e Victor Bluhm (bateria), o Oto Gris mostra as caras com o álbum "Avôa".

"A gente se reuniu e decidiu fazer um disco. Depois, fomos conhecendo um pessoal e formando parcerias, tipo com o Saulo Duarte e o Klaus Sena (produtores), que acreditaram nas músicas e resolveram, junto com o estúdio Cambuci Roots, fazer o disco", conta Davi.

Principal letrista do grupo, o cantor destacou a participação de todos nos arranjos. As 9 faixas foram ensaiadas como trio, bem cru, e depois, em estúdio, convidaram mais músicos para rechear a produção, com teclados e sintetizadores.

Expondo o lado rock and roll de Fortaleza, o som da banda é uma mistura de diversos estilos. "Não queríamos fazer um disco de rock, mas não tem como fugir das nossas raízes. O Saulinho e o Klaus entraram com essa pegada mais swingada e fomos trocando informações. Realmente é difícil rotular o som da banda. É rock, é reggae, é MPB…", brinca Jonas.

O nome do grupo é outro ponto de debate. "Oto vem de outro. Mas nós queríamos encontrar um termo que não existisse, que fosse só nosso. Nós gostamos da sonoridade, e fomos bolando vários nomes com Gris.", lembra Davi.

"Gris também é o cinza do nosso estranhamento de chegar em São Paulo. A gente vem de uma cidade que é quente. Quando você vai de avião daqui para lá você percebe que muda a saturação do lugar", completa Jonas. "Mas não é esse cinza triste, pesado. Para mim, é um cinza é um lance de renascer, sabe? É um outro tipo de cinza".

O distanciamento de casa dita o clima de "Avôa". Ora versando sobre um coração nômade, que não descansa, que nem chega e já quer ir embora, ora falando sobre o amor, a única coisa que motiva alguém a ficar, a banda quis deixar claro a necessidade de expandir.

Oto Gris 2

Arte da capa de "Avôa"

Para o baixista, "Foi por isso que a gente saiu de Fortaleza. Não é a cidade São Paulo, não é um lugar. É sair do rock and roll, crescer. Desamarrou de casa, você não é de lugar algum".

O lado melancólico se faz vivo no trabalho, mas quando questionados se São Paulo tem essa característica, o grupo entra em um debate. Jonas e Victor concordam enquanto Davi discorda. "Cada vez mais eu descubro menos cinza aqui", fala o cantor.

Jonas rapidamente entra em cena. "Se for pensar nesse lado, sim. Eu falo de melancolia por um lado existencial mesmo. Em São Paulo, você não é ninguém. Nós saímos de uma escola em que você conhece do homem da porta até o diretor e a senhora que faz a merenda. Em lugares muito grandes e populosos, isso é complicado".

Para os integrantes da banda, a cultura do êxodo está muito enraizada para os nordestinos. Entretanto, cada vez mais, músicos que partiram para outras cidades e acumulam experiências acabam transitando entre ambas as cenas, justamente para sempre mantê-las revitalizadas.

"Mas São Paulo tem um ímã. É porque está saturado (de bandas) que a gente vai. Podemos cruzar com diversos músicos de qualquer lugar do Brasil e do mundo.", aponta Victor.

O grupo inteiro concorda que a maior dificuldade em trabalhar com música é a cultura do consumo. "A pessoa vai no Starbuck e não vê problema em pagar um copo de café em que a pessoa aperta um botão e você o consome em 10 minutos. Mas em uma música, que foi composta, ensaiada por diversas pessoas, não paga um dólar", diz o baixista.

Davi afirma que o próximo passo da banda é observar o mercado de uma maneira que funcione para o trio. "Gravamos esse primeiro disco sem se preocupar com nada, não pensamos em moldar alguma coisa. Agora, a gente vê que existe um mercado e a meta é encontrar quem goste do nosso som e formar nosso público".

O trabalho sólido feito em "Avôa" é só começo para o Oto Gris. Novos horizontes ainda serão explorados e ainda é cedo para fincar os pertences em um local apenas.

"Em São Paulo, eu não vejo essa sensação de continuidade, justamente porque a praia faz esse trabalho. Isso é o que mais deixa aflito. A praia permite que a gente veja do outro lado do mar", conclui Jonas.

Rodolfo Vicentini
UMD

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