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Rodrigo do Dead Fish fala sobre o CD/DVD de 20 anos da banda

UOL Música

04/07/2012 19h27

Xavero Costa
Do UOL, em São Paulo

A Rádio UOL bateu um papo com Rodrigo Lima, vocalista de uma das bandas mais representativas do Hardcore nacional, Dead Fish. Pioneira da variante melódica do estilo no Brasil, a banda acaba de completar duas décadas de atividade, coisa rara para quem toca música rápida, pesada e politizada.

"Sempre tivemos uma postura", diz Rodrigo. "Isso é difícil de vender".

Para comemorar a data, o Dead Fish está lançando um DVD e um CD duplo, gravados ao vivo no Circo Voador (RJ). O registro conta com canções de todas as fases da banda, escolhidas pelos fãs. Os dois volumes do álbum já estão disponíveis na Rádio UOL.

Dead Fish 20 anos Volume 1
Dead Fish 20 anos Volume 2

Curta a Playlist Dead Fish aqui na Rádio UOL

É o segundo DVD da banda, o primeiro com a formação atual.

Veja o que mais Rodrigo disse sobre o lançamento, o aniversário da banda, sua preocupação com a violência, os projetos para o futuro e muito mais.


Rádio UOL – Como surgiu a ideia de fazer o DVD de 20 anos?

Rodrigo – A gente tinha acabado de trocar de empresário. A Erica que era  empresária da banda na época
indicou o Denis, que falou "tenho uma data no Circo Voador dia 11/11/11, tão afim?" e eu topei na hora, pelo fato de ser uma data simbólica. Falei pra fazer um DVD, pois a gente queria um registro com o Marcão (baterista) na banda. Aproveitamos que era feriado, tudo meio que arrumado já, não tinha como fazer outra coisa.

Rádio UOL – Não surgiu a ideia de fazer na terra natal de vocês, que é Vitória?

Rodrigo – Sim, era nossa primeira vontade, mas não tinha como pagar todos os custos fazendo em Vitória, deslocar equipamento, colocar duas mil pessoas no Espírito Santo era impossível, o custo seria o triplo, então era inviável.

E tem o fato de que as coisas já estavam no Rio, o diretor era do Rio, então tudo corria a favor de ser lá, foi lindo. E a gente faz muitos shows legais no Rio, a gente provoca o público e eles provocam a gente!

O Dead Fish tem uma sintonia muito boa com os cariocas e o legal é que foi gente do Brasil todo pra assistir. Até fico triste, pois não consegui lembrar todas as cidades e estados na hora de agradecer.

Rádio UOL – Como foi a escolha do set?

Rodrigo – A gente abriu para o público e jogou umas músicas pra galera escolher. Seriam 30 músicas, mas calhou que escolheram as mesmas músicas do Ao Vivo MTV, ai não rolou, a gente teve que intervir, no estilo democracia Americana (risos).

Rádio UOL – Quando vocês gravaram o Ao Vivo MTV a formação era outra, com duas guitarras e outro batera. Como foi a gravação ao vivo com essa formação nova?

Rodrigo – Eu gosto muito, ficou bem pesadão, eu curto essa formação em quarteto. O Felipe fez um trabalho ótimo ali, conseguiu adaptar todos os arranjos, usando pedais, deixando bem cheio. O real é que algumas músicas antigas ficaram totalmente diferentes do disco, mas nada que interferisse na qualidade.

Rádio UOL – O esquema de produção, a banda acabou se envolvendo totalmente?

Rodrigo – Apesar da gente bancar os profissionais, muitas coisas foram na amizade, com isso a gente conseguiu pagar bem menos. Com a qualidade das imagens, teríamos pagado o dobro em um esquema normal. Eu não posso dizer que foi D.I.Y. (sigla em inglês que significa "faça você mesmo"), pois a gente desembolsou uma puta grana.

A banda já estava envolvida seis meses antes, com divulgação, com todo o processo de como seria lançado. A gente foi até a Deck conversar, eles fizeram um acordo legal com a gente e tal. Eu fui para o Rio falar com diretor, o Felipe cuidou da parte de som.

Eu ajudei em algumas coisas na edição de imagem, eu falava pra por algumas coisas, tirar outras, não colocar violência etc. Foi um trabalho totalmente em conjunto. O Felipe (Guitarra) mixou tudo, então não foi aquele esquema da banda ir lá, tocar e ir embora, estávamos envolvidos até o pescoço com o projeto.

Rádio UOL – Com esse envolvimento todo no projeto, deu pra interferir em muita coisa, pode citar algumas?

Rodrigo – Eu ando com uma neurose muito grande com violência, então eu queria tirar tudo que fosse violento. O editor que é o Daniel Ferro já conhecia a banda, então o cara queria mostrar a coisa do jeito que era mesmo. Eu sempre fui um cara meio arrogante no palco, mas o lance violento, tanto no público quanto na banda eu queria apagar, deixar de lado. Eu acho que estou ficando velho e entrei nessa neura. Acho que essa nova geração não tem tanta noção da força que é estar ali no meio, então às vezes tem uma agressividade forçada, a galera não sabe às vezes que isso machuca.

Rádio UOL – Precisou parar o show por esse motivo ou outro?

Rodrigo – Várias vezes, o público do Rio é um dos mais violentos. Tive que pedir pra galera pegar leve várias vezes. E tem essa coisa que eu odeio também da galera querer subir no palco pra dar tchau pra mãe, pra tia. Eu acho que não existe essa separação de banda e público, por isso mesmo que eu odeio. O cara fazendo isso mostra que ele quer aparecer mais que o público e que a banda.

Uns tempos atrás eu teria chutado o cara do palco, mas agora eu cansei e não quero fazer mais isso. O problema é que o público se renova sempre, então o cara que cometia esses erros lá atrás não comete mais, mas o cara novo comete, desde o lance de ser chato ou violento. E a gente acaba tendo que falar sempre nos shows, pois as pessoas precisam entender que elas fazem parte de um todo. No sentido de que não adianta querer aparecer mais, causar mais, não é assim que funciona.

Rádio UOL – Uma curiosidade, como começou esse negócio do público gritar para a banda "Hey Dead Fish, vai tomar no C*!"?

Rodrigo – Foi culpa minha, 100%. Foi mais ou menos em 2002 ou 2003, uma fase muito ruim minha, tinha brigado com a banda inteira, muitos problemas, convivência, achei que tinha chegado ao fim, que já tinha passado da hora de acabar. Foi um ano tenso, 130 shows em um ano, todo mundo dentro de uma van, ficava com os caras 24 horas por dia.

A gente foi gravar um ao vivo no Hangar 110 e eu criei esse raio de grito, queria que a banda escutasse isso. Aí eu pedi pra um terceiro gritar, que foi o público, o pessoal pirou e a parada tomo essa proporção até hoje, como acontece com a música do Ratos de Porão "Aids pop repressão, o que é que eu fiz para merecer isso?". Eu às vezes fico de saco cheio, não acho tanta graça, mas é culpa minha, então não posso falar nada.

Rádio UOL – Uma época a banda teve uma boa abertura de mídia, estavam sempre na televisão, por que parou? Isso foi bom em todos os aspectos?

Rodrigo – Foi um pouco por causa do contrato, mas hardcore não faz milagre. A gente teve o nosso tempo de mídia grande, tocamos em vários lugares, mas foi aquilo, acabou. Não vejo problema numa banda do nosso estilo ter essa abertura.

A gente é meio chato, eu mesmo sempre me questionava, tanto que não era tudo que eu ou a banda topava fazer. Tem coisa que eu acho que não precisava, mas sei lá, tocar no Altas Horas que é um programa musical eu não via problema nenhum. Acho que todas as bandas de todos os estilos deviam ser representadas ali.

Eu acho que muitas vezes a gente podia ter sido mais relax, mas a gente não conseguia, pois as perguntas eram fracas, chatas, coisas do tipo "vocês estão imitando CPM22?". Os caras nem tentavam se informar, mal sabiam que a banda tem quase uns 10 anos a mais que o CPM 22, mas isso é só um dos exemplos. O lance é, se alguém se iludiu achando que ia fazer sucesso com música rápida, se deu mal.


Rádio UOL – Pensando no todo, esta exposição valeu a pena?

Rodrigo – Ajudou sim, o aumento para o público leigo fora da escola do hardcore não foi muito grande, pois a gente sempre foi muito barulhento. Apesar de ser mais melódico do que muita banda, sempre tivemos uma postura  isso é difícil de vender sabe?  Mas é isso, a gente conseguiu cavar o nosso buraco, conquistar o nosso espaço contra tudo e contra todos, se tornar uma banda mediana. A gente fez o que tinha que fazer, mas sempre do nosso jeito, nunca existiu um terceiro respondendo pela banda.

Rádio UOL – Apesar de a banda ter tomado essa proporção, vocês continuaram circulando pelo underground.

Rodrigo – A gente sempre fez isso, eu gostaria que todas as bandas tivessem a oportunidade que a gente teve, isso é questão de democracia, toda banda deveria pelo menos ter esta experiência é um direito.

Rádio UOL – Pra finalizar, tem alguma novidade vindo pela frente?  Algum projeto especial pra divulgar esse DVD, tour etc.?

Rodrigo – Novidade concreta, não, mas a gente tá a fim de fazer um DVD com a história da banda, com entrevistas e tal, pegar todo mundo que passou pela banda, colocar imagens de shows no Brasil todo.

É uma coisa legal, pois em cada lugar o público se porta de uma forma. O Dead Fish já tocou o Brasil todo, então a gente tem MUITA imagem, a parada seria meio que um documentário mesmo, falando desses 20 anos de Dead Fish. Agora sobre tour e divulgação do DVD 20 anos a gente vai deixar a banda tocar sozinha, vai indo, o que rolar rolou, vamos marcando as coisas.

É isso, a gente costuma viver um dia a pós o outro, não temos nada planejado, continuamos com a mesma rotina de sempre tocando em todos os lugares.

Ouça os álbuns da banda Rádio UOL
Zero e Um
Contra Todos

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