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Rafael do Planet Hemp fala sobre reunião da banda

UOL Música

07/09/2012 19h51

O baixista Formigão, o baterista Pedrinho, Marcelo D2 e o guitarrista Rafael Crespo do Planet Hemp

Recentemente  começaram a pipocar na internet boatos sobre uma das reuniões mais esperadas do rock nacional. O Planet Hemp voltaria para um show no evento comemorativo de 30 anos da casa de shows carioca Circo Voador no dia 28 de setembro.

Quando os boatos se confirmaram, os ingressos se esgotaram em uma hora. Não houve outro jeito e o que seria apenas um show se transformou numa turnê que passará por Porto Alegre, Fortaleza, Recife, São Paulo, São Bernardo, Curitiba e Manaus.

"A principio tocaríamos só o primeiro álbum, "Usuário" (1995), mas decidimos que não daria certo", diz o guitarrista e integrante fundador do Planet Hemp, Rafael Crespo. "Vamos tocar material de todos os discos.

E a coisa não para por aí. Existe a possibilidade da banda voltar para valer, com direito a material inédito.

Formado em 1993 no Rio de Janeiro, o Planet Hemp logo se tornou uma das bandas mais marcantes do rock nacional. Além do conteúdo pró-legalização da maconha, criou uma identidade musical única, misturando hip hop, rock pesado, música brasileira e irreverência carioca, num caldeirão inédito até então.

Chegando a serem presos e perseguidos judicialmente por ideias, mostraram que a liberdade de expressão garantida constitucionalmente existe muito mais no papel do que na realidade, ajudando a alavancar uma pequena revolução de costumes no país.

Não é exagero dizer que a discussão política em torno da legalização da maconha, hoje comum no Brasil, foi influenciada pelo sucesso do grupo.

Em entrevista exclusiva, Rafael Crespo fala sobre a reunião, as polêmicas na década de 90, o amadurecimento da banda e muito mais.

Radio UOL – Recentemente saiu à notícia da reunião do Planet Hemp, como surgiu essa ideia?


Rafael – Então, o Circo Voador vai fazer uma comemoração dos seus 30 anos e nos convidou para tocar nessa festa. A galera achou legal a ideia e topou na hora.  


Radio UOL – Os ingressos se esgotaram em 1 hora. Foi isso que gerou a ideia de transforar o show numa turnê?


Rafael – Há principio seria só esse show, mas com essa grande procura acabou surgindo a possiblidade de fazermos duas datas. A idéia mudou, seriam então dois dias, dia 28 e 29 de setembro no Circo Voador. Saímos dessa reunião com uma ótima impressão. A repercussão tinha sido muito boa, muita gente comentando. Começaram então os comentários entre nós mesmos sobre tocar noutros lugares. Daí em diante a coisa foi acontecendo meio que automaticamente.

Radio UOL – Você disse que vocês não se viam a um tempo. Essa falta de contato tem a ver com algum problema mal resolvido entre os integrantes?



Rafael – De jeito nenhum, foi mais o lance de cada um ir fazer suas coisas mesmo, seguir sua vida. Eu moro em São Paulo e todos os outros caras no Rio. O Marcelo D2 está sempre viajando, em turnê, mas a gente nunca perdeu totalmente o contato, nos falamos pela internet.

Rádio UOL – Sobre a banda, ainda rola uma sintonia forte quando vocês tocam juntos?


Rafael – É muito forte, tem uma química ali que é demais. Eu realmente tenho muito prazer de tocar com eles, são realmente aquelas pessoas que tem uma química muito boa de tocar, então pra mim é ótimo.




Rádio UOL – Como é a dinâmica, o relacionamento entre os integrantes da banda, agora que estão todos uns 15 anos mais velhos? Você sente mais maturidade?

Rafael – É muito diferente, o lance da maturidade é outra coisa mesmo. A gente realmente percebe o quanto nós nos transformamos. Na verdade é uma coisa que a gente não tem muita noção às vezes, mas quando você está ali de novo com as mesmas pessoas, você começa a lembrar de certas coisas, vê como aprendeu a lidar com situações que antes eram muito complicadas e hoje você encara como algo normal, natural. Faz muito bem. Acho que isso acabou dando mais ânimo pra gente voltar a tocar, todos estão mais tranquilos e relaxados.

Rádio UOL – Que tipo de situações vocês viveram com a banda que você lembra na época em que faltou essa maturidade? 



Rafael – Era muito estressante, cara, tinha a questão da polícia, a questão judicial. Ficava sempre uma tensão no ar, esperando acontecer alguma coisa, até o dia que aconteceu, sabe? Era sempre aquela expectativa desagradável. Muitas vezes a gente foi tocar em lugares com casa cheia, arrumávamos tudo e na hora "H" não podíamos fazer o show, tinha mandato policial proibindo, policial tratando mal os fãs da banda na porta…

Foi muito difícil, a gente não sabia direito como lidar com isso, absorvíamos esse estresse e acabávamos descontando uns nos outros mesmo. Era uma coisa nova, poucas bandas passaram por isso, e pela nossa imaturidade acabava rolando brigas entre nós.

Rádio UOL – E o Brasil de lá pra cá você acha que amadureceu em relação a essa temática? Com marchas acontecendo nas cidades, mais discussões sobre o assunto, você acha que seria mais fácil pra vocês liderem com esse tipo de coisa?



Rafael – Eu acredito, e espero que sim. Acho que essa questão já avançou bastante, para várias pessoas. Temos o caso de ex-presidente Fernando Henrique dando depoimento sobre o assunto. Acho que é um discurso que precisa ser colocado em pauta, precisa ser discutido, pois é um problema que afeta a todos, então não dá para tratar como se ele não existisse, só pelo fato de você, eu, ou nossa família não sermos usuários. Eu espero que realmente as pessoas hoje estejam mais amadurecidas pra poder lidar com esse tipo de assunto sem tanta "emoção", com mais racionalidade.

Rádio UOL – Voltando ao assunto da turnê, vocês pretendem lançar algum material relacionado?



Rafael – Sim, serão registrados todos os momentos da reunião, desde o primeiro ensaio até o último show. Os caras vão acompanhar tudo, só não sei ainda o que pode rolar com esse material. Mas com certeza lançaremos alguma coisa. Na verdade não estamos trabalhando com nenhuma expectativa, não fizemos muitos planos, o que for acontecer vai acontecendo. Então como íamos fazer um show e acabou virando dez, vamos registrar tudo e ver o que esse material vai acabar virando.

Rádio UOL – E existe alguma possibilidade dessa reunião ter algum prosseguimento depois com material novo e disco de inéditas? Vocês vão te uma vida além desses shows?



Rafael – Existe sim, com certeza. Mas é aquilo que eu falei, nós não estamos trabalhando com expectativa nenhuma, estamos fazendo tudo tranquilamente. E snem podemos nos preocupar com isso ainda, pois o Marcelo D2 e o Bnegão acabaram de gravar discos novos, e provavelmente vão ter que fazer a divulgação. Esse assunto foi algo conversado, mas não estamos botando pressão. Se acontecer será algo natural.

Rádio UOL – Você fez parte do Planet Hemp que é um grupo tipicamente carioca, e tem toda uma carreira com outros projetos em São Paulo. Como o Rio de Janeiro e São Paulo influenciam nas composições e no clima do que você faz?



Rafael – São Paulo é demais, quando eu vim pra cá pela primeira vez, toda a minha visão artística mudou. Posso dizer que foi minha maior influencia. Hoje eu considero São Paulo a minha cidade, o lugar que eu amo. O Rio foi o lugar de onde eu vim, onde eu passei minha infância. Tenho muitas recordações e meu time do coração, o "Fluzão". Então tem essa coisa que eu não sei explicar direito, do passado, aquela coisa nostálgica, os amigos que eu amo. Mas também tem o lance de viver em São Paulo e ter sido transformado. Não sei direito como isso se mistura, mas é interessante.

Rádio UOL – Nós sabemos que o Marcelo D2 e o BNegão continuam envolvidos com projetos musicais, mas e os outros integrantes, o que andam fazendo. E você, o que tem feito ultimamente?



Rafael – O Pedrinho (baterista) tem um estúdio no Rio, ele toca com uma banda chamada Rockz que faz muitos shows no Rio. O Formigão também continua tocando, está numa banda bem antiga do Rio o Cactus Cream. 
Eu tenho me dedicado muito a produção e gravação, trabalhado bastante com áudio, tocado com algumas bandas, não tanto quanto eu queria, mas sempre tocando.

Rádio UOL – Esses seus projetos acontecem sempre de forma independente?


Rafael – Sim, sempre. Pra mim isso é uma necessidade. É o mundo de onde eu vim, onde eu quero
viver, o mundo do "faça você mesmo".

Rádio UOL – E o Planet, tem contrato com alguém ainda?


Rafael – Não temos mais contrato com ninguém.

Rádio UOL – E com o anuncio da reunião, vocês foram sondados por alguma gravadora?


Rafael – Que eu saiba não.

Rádio UOL – Como vocês encaram isso hoje? Se uma gravadora chamar, vocês encaram ou a preferencia é fazer as coisas de forma independente?

Rafael – Cara, hoje em dia as gravadoras não tem mais dinheiro. Os artistas que abraçam ou é por falta de opção, ou por falta de iniciativa mesmo. Hoje a gravadora é mais uma etiqueta, uma grife. Para mim não representa mais nada, estou há muito tempo longe desse meio. Caso role alguma coisa nova no Planet, acredito que será de forma independente. Se você vai criar, vai fazer tudo sozinho, não tem motivo pra se submeter a uma gravadora. Acho que a gravadora não tem mais o que oferecer.
Rádio UOL – O público mais jovem de hoje em dia conhece o Planet?


Rafael – Acho que não muito. Tenho uma filha de 18 anos e é a primeira vez que ela vai a um show da banda. Do pessoal da idade dela, acho que um ou outro sabe da nossa existência. Acho bem legal, vai ser uma oportunidade de tocar para um público novo. Estou curioso pra ver a reação dessas pessoas novas. Nossos shows geralmente eram muito agitados, tinham muitas brigas e esse público novo já tem uma cabeça diferente. Quero ver.

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