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Katinguelê volta às paradas com hit "Toda Chic" e afirma que vive o melhor momento em 15 anos

UOL Música

14/02/2013 06h00

O grupo paulista voltou às paradas de sucesso com "Toda Chic" no final de 2012

Oscar Fujiwara
Do UOL, em São Paulo

O Katinguelê está de volta ao topo das paradas brasileiras com a música "Toda Chic" e desde o seu auge, quando estourou na segunda metade da década de 90 com os hits "Recado à Minha Amada" (Lua Vai) e "Inaraí" não via uma música sendo tão executada nas rádios do país.

O grupo acumula 28 anos de estrada e ficou marcado pela presença do vocalista Salgadinho no palco por mais de uma década. Há três anos, a história do sexteto, que já andava um pouco esquecido pelos fãs, mudou com a entrada de Diguinho nos vocais e deu uma nova guinada.

Em entrevista ao UOL, o vocalista revela que a sentiu a responsabilidade de ocupar o posto que já foi de uma figura que marcou época no pagode e que já foi comparado ao cantor Thiaguinho (ex-Exaltasamba), pelo fato de dar um ânimo novo a um grupo tradicional que não passava por uma boa fase.

Diguinho também aproveita para criticar a organização do pagode brasileiro e conta que chegou a ficar tão desiludido com a carreira de músico que resolveu morar no Japão por falta de oportunidades no país.

Diguinho canta no grupo desde 2010 e confessa que sentiu a responsabilidade de substituir Salgadinho

Esse é o melhor momento do Katinguelê desde o estouro no final do anos 90 com os sucessos "Recado à Minha Amada" e "Inaraí"?

Com certeza. Estamos muito felizes com o retorno do público. A gente sabe que é difícil aceitar a troca de vocalista, uma nova história. Há três anos que estou à frente do grupo e conquistamos coisas que há 15 anos eles não conseguiam. Você tenta fazer o trabalho mais legal e honesto possível e agregar tudo o que há de bom. Quem vai decidir se vai tocar no rádio é o público.

Como enfrentou a responsabilidade de assumir o posto que já foi de um cantor tão conhecido como o Salgadinho e que, de certa forma, era a cara do grupo?

Tenho muito respeito pelo trabalho do Salgadinho. Sempre fui fã dele e senti o peso da responsabilidade. É como vestir a camisa da seleção brasileira: você espera por uma oportunidade e quando ela acontece, demora a cair a ficha, mas você conta muito com o carinho do público. Até hoje, quando tocamos em lugares mais distantes dos grandes centros, tem gente que vai ao show esperando ver o Salgadinho no palco (risos).

Você se identifica com a trajetória do Thiaguinho, na época do Exaltasamba, como um cantor jovem que deu ânimo extra a um grupo que há tanto tempo estava nas paradas de sucesso e não passava por um bom momento?

No caso dele, o Exalta não podia parar. O grupo vivia há mais de 20 anos da música. O mesmo aconteceu com o Katinguelê, que tem 28. O trabalho não pode parar porque uma pessoa saiu. É normal você procurar outro vocalista. É lógico que todo mundo me compara ao Thiaguinho, mas existem vários grupos de samba que trocaram de vocalista e continuam trabalhando.

A cara do Katinguelê também mudou um pouco após a sua entrada?

Quando você assume os vocais, dá um pouco da sua cara sim, do seu jeito, das suas músicas e aí acabou mudando um pouco do Katinguelê que muita gente conhecia. Hoje, usamos muita guitarra com distorção nos nossos shows e músicas, coisas do rock and roll. Acabou mudando sim, mas toda mudança é bem-vinda.

O pagode vive uma de suas melhores fases nos últimos anos?

O pagode está em ascensão, como na década de 90, quando dominava as rádios. Ainda falta muito para os grupos chegarem ao antigo patamar, não em termos de musicalidade, mas de espaço. Muita coisa foi perdida, por falta de compromisso mesmo. Falta muita união no nosso meio. Coisa que eu acho que o meio sertanejo tem demais. O maior erro dos sambistas e dos grupos em geral é a falta de união. Isso acaba criando uma rixa entre os escritórios. O pessoal nunca entende que o pior hoje pode ser o Ayrton Senna de amanhã. Todo mundo tem um começo, o Ayrton não começou a correr na F-1.  Por isso que você tem que respeitar quem já está aí e não menosprezar e ajudar quem está chegando.

Pode ilustrar um mais pouco esse descompromisso e falta de união?

São coisas que eu escuto. Falta de cumprimento de horários, entrevistas. Isso acaba fechando muitas portas. É falta de organização. Agora, temos escritórios mais competentes, investindo em samba. Quando você vê o samba voltando à programação da Globo é porque foi dada uma nova chance – retornando às novelas, à vida ativa do brasileiro. Depende de nós evitar que essa porta se feche novamente.

E o que o Katinguelê está fazendo para evitar esses erros?

É bem difícil, mas nós conversamos muito. Até porque são erros que o Katinguelê cometeu também. Por conta da agenda muito cheia, de noites mal dormidas, ficar muito tempo na estrada, falta de atenção aos fãs. Você comete erros, isso é normal. Eles já erraram, se privaram de muitas coisas e agora estão retomando aquele lugar que sempre foi do Katinguelê, mas com mais consciência e pé no chão. A vida artística é uma roda gigante, um dia você está lá em cima e no outro lá embaixo. São erros que a gente pretende não cometer mais.

Antes do Katinguelê, você teve músicas gravadas por artistas de peso do pagode, como Belo, Pixote e Samprazer. Mesmo com o sucesso anterior, este também é o ponto alto de sua carreira?

Com certeza. Estou com 30 anos, já me desiludi muito com a música e até saí do país por causa disso. Quando voltei, recuperei todo o tempo que perdi quando estava distante.  É o que gosto:  vivo da minha música e viajo o país cantando.  Sempre gostei de ficar atrás das cortinas e trabalhar como compositor. Tinha perdido a vontade de estar no palco. Há nove anos fui morar no Japão, onde fiquei por cinco anos. Quando voltei ao Brasil, recebi o convite para tocar no Katinguelê.

Pode falar um pouco mais sobre essa desilusão?       

Foi por causa da música em geral. São muitas promessas falsas. Muita gente se aproxima para tomar o pouco que você tem. A pessoa que decide ser músico é marginalizada no país. Você nunca vai chegar na casa de uma namorada e falar para o pai dela que quer ser músico e ouvir de volta: "Que legal, case com esse cara". Ainda assim, aparecem pessoas que querem se aproveitar do seu talento em benefício de interesse individuais para ganhar dinheiro. Me desiludi com tudo isso e decidi ir ao Japão para correr atrás do tempo perdido. Por causa de tanto tempo buscando uma coisa que nunca vi.  Já tinha perdido quase 10 anos batalhando.  Achei que não ia chegar a minha hora. Hoje, é muito difícil eu errar porque já passei por muita coisa. Tenho 30 anos, mas experiência de uma pessoa de 50.

E como foi a experiência no Japão?

Comecei a trabalhar como funcionário de fábricas (dekassegui) e fiquei dois anos fazendo isso. Durante esse período, ficava no serviço das 7h às 24h e tocava das 24h às 4h. Aquela luta de quem quer vencer na vida. Sempre tive muita gana de querer vencer. Tinha uma banda que cantava músicas da Motown, como Jackson 5. Também tocava MPB, voz e violão. Era bem diversificado. Conheci uma pessoa que tinha um estúdio muito famoso em Nagoya  e ele me colocou para fazer mixagem e masterização. A partir de então comecei a produzir no estúdio dele. Depois de cinco anos, estava só trabalhando com produção musical.

E tem vontade de voltar ao Japão para se apresentar com o grupo?

Espero voltar um dia com o Katinguelê. Porque retornar ao país no qual você chegou sem falar a língua e poder voltar fazendo sucesso, seria um marco na minha vida. Temos planos, mas estamos primeiro cuidando da carreira nacional, para criar esse ambiente para voltar ao Japão. Aprendi japonês na marra. Era o único negão no meio de um monte de descendentes e falava melhor do que eles.  Me chamavam para traduzir tudo (risos).

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