"Resposta à crise no rock nacional", afirma vocalista do Vespas Mandarinas sobre disco de estreia
Oscar Fujiwara
Do UOL, em São Paulo
Claramente rock, mas assumidamente também influenciado pelo pop, o Vespas Mandarinas conquista as rádios brasileiras investindo no som das guitarras e com o hit "Cobra de Vidro" começa com força total o trabalho com seu disco de estreia, "Animal Nacional".
Depois de dois EPs (2010 e 2011), o grupo paulistano lançou o 1º álbum em abril de 2013 e desponta como uma das revelações do rock brasileiro. Formado por Chuck Hipolitho (voz e guitarra), Thadeu Meneghini (voz e guitarra), Flavio Guarnieri (baixo) e André Dea (bateria), o quarteto já está entre os mais pedidos nas rádios que ainda tocam rock no país e chama a atenção dos ouvintes que gostam de riffs e solos do instrumento de seis cordas.
Em entrevista à Rádio UOL, Chuck, que também é VJ da MTV e ex-guitarrista do Forgotten Boys, afirma que o disco é uma resposta à crise no rock nacional e que a música está muito careta hoje em dia. O músico aproveita para lembrar que o fato de trabalhar no canal de televisão mais atrapalha do que ajuda na divulgação de sua banda e mostra como foi a transição do inglês para o português na hora de compor e cantar.
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Em uma época na qual o rock não é um dos estilos mais prestigiados nas rádios brasileiras, surpreende o sucesso que o disco está fazendo?
Tínhamos a vontade de fazer um rock pop acessível às pessoas e que não deixasse de ter essa raiz e atitude do rock que a gente tem. "Animal Nacional" é um disco intencionalmente rock, intencionalmente pop. É meio como se a gente tivesse feito o disco para tudo isso que está rolando, mas era impossível prever que esse tipo de coisa aconteceria. A volta da UOL 89 FM foi uma coisa muito boa também, pois nossa música toca três, quatro vezes por dia lá. Isso é surreal. Esse disco é a coisa mais legal que fiz musicalmente até agora.
A presença das guitarras e a importância delas no disco é bem evidente. Você acha que esse instrumento vem perdendo força entre as novas gerações do rock nacional?
Eu sou guitarrista e vocalista por natureza, o Thadeu também. Temos um cuidado enorme com tudo que escrevemos para a guitarra – as frases, os timbres – brigamos todos os ensaios para chegar à perfeição. Os arranjos são muito pensados. Na hora de fazer o disco, isso acabou sendo valorizado. Acho que aconteceu meio por acaso. É lógico que gostamos de guitarra e de ser associados ao rock. Faz muito tempo que a gente não ouve guitarras e rock nas bandas de rock. Quando ouve, é aquela coisa afundada, lá no fundo da mixagem.
O rock ficou mais careta?
O mundo inteiro está careta, até o futebol está careta. Tudo politicamente correto. Eu me considero um cara roqueiro, que gosta de rock and roll e que gosta dessa energia das coisas. A última coisa que vi no Brasil que era realmente rock e que teve um alcance mainstream foi a geração do Nação Zumbi, Planet Hemp, O Rappa e Raimundos. Eu tenho a maior felicidade de ter consumido essas coisas quando elas apareceram. Isso aí foi uma sorte muito grande. Depois que os Mamonas Assassinas apareceram, pra mim foi ficando cada vez pior. Cheguei a um ponto no qual não me identifico com praticamente nada do que é chamado de rock.
Na sua opinião, o rock brasileiro passa por uma crise?
Não sei se todos acham que está rolando uma crise, mas pra mim está. Talvez, o que esteja fazendo hoje seja uma resposta interna a isso que a gente enxerga. Hoje, tem banda que eu ouço que parece americana cantando em português, mas é um português com sotaque inglês, eu não entendo nada do que elas estão falando. É meio bizarro. Essa briga entre o Lobão e o Mano Brown, por exemplo. Pode ser uma situação meio constrangedora, mas pelo menos existem artistas como eles que não têm medo de se expressar e falar o que pensam.
Confira o clipe de "Cobra de Vidro":
Você vem do Forgotten Boys, uma banda que canta em inglês. Quais as maiores diferenças em relação à língua na questão da composição e da chegada da música aos ouvidos do público?
Quando bem feito, o inglês soa muito rock and roll. Porque a raiz da música pop que a gente ouve no mundo inteiro vem da música norte-americana. O inglês ajuda a globalizar as bandas e permite que se comuniquem com muito mais gente. Por outro lado, você acaba não se conectando com sua raiz local e a concorrência aumenta, pois passa a ser comparado com muitos artistas que têm referências muito parecidas com a sua. Cantar em inglês é um pouco mais fácil também, quando você domina a língua. Em termos de sílabas tônicas, terminação silábica, as frases das palavras em inglês são muito mais previsíveis.
Você acha que consegue cantar as músicas com mais verdade em português?
A língua portuguesa é muito mais difícil, porque é um desafio você cantar alguma coisa na sua própria língua que te convença. Se você está cantando algo que te convença plenamente, isso já é melhor do que cantar em inglês. O poder de comunicação de algo em português é mil vezes mais rápido, é instantâneo. Quem está te ouvindo está entendendo de primeira. Canto com muito mais verdade, me sinto muito mais à vontade hoje em dia. É como se não estivesse passando por nenhum filtro, tudo sai direto do coração. Mas é lógico que tenho músicas que fiz no Forgotten que adoro e que acho "animais" em inglês.
Arnaldo Antunes é o compositor da letra de "A Prova". Como aconteceu o convite para a parceria?
Estávamos com uma música sem resolução, faltava uma letra e era uma música possivelmente forte para o disco. Já tínhamos a enviado para algumas pessoas e não acontecia. Então, mandei um e-mail para o Arnaldo. Já tinha conversado com ele, mas nada muito profundo. No e-mail me apresentei e ele escutou o que tínhamos. Foi super disciplinado e profissional e eu só agradeço. Eu sou completamente apaixonado pelos Titãs e ter a energia daquela pessoa junto com o que fazemos é uma coisa incrível. Outro parceiro muito importante foi o Bernardo Vilhena, que já trabalhou com o Lobão e é dono de um poema que se chama "Animal Nacional", de onde tiramos o nome do disco. Quem escreveu praticamente o disco inteiro foi o Adalberto Filho, um amigo nosso, que é a 5ª Vespa Mandrina.
Em que medida ser VJ da MTV ajuda na divulgação de seu trabalho com o Vespas Mandarinas?
A MTV nunca deu força pra mim ou pra qualquer projeto meu porque eu era de lá. Adoro trabalhar lá, me sinto em casa, tenho o maior orgulho de ter minha imagem associada à marca, mas isso me atrapalha mais do que ajuda, porque as pessoas me associam à MTV. Então, qualquer êxito que a banda alcançar, vão falar que é por causa do meu trabalho como VJ. Não me sinto à vontade com a MTV passando o meu clipe, pra mim é uma coisa estranha, uma coisa que tenho que superar.
Você está na MTV há muito tempo, como diretor ou apresentador, como vê a mudança nos gostos musicais dos jovens?
Por vários anos, as pessoas compraram a mesma coisa com embalagens diferentes. Não existia muita variedade. Parece coisa de tiozão, mas na minha época, ouvir música era uma coisa mais lenta, mais difícil. A gente comprava os discos, não existia internet. Dávamos um valor diferente para tudo que a gente ouvia. Eu conseguia gostar do Deep Purple, Raul Seixas, Marisa Monte, Paralamas do Sucesso e do Bob Marley. Tudo ao mesmo tempo. Tudo que chegava a mim eu assimilava. Hoje, todo mundo gosta de coisas muito parecidas.
É muito difícil fazer sucesso com rock hoje em dia?
Está fácil conquistar novos ouvintes no Brasil, acho que você tem que buscar a verdade e a originalidade e abrir o coração e mostrar para as pessoas. Está fácil. O que talvez esteja difícil é botar a banda na estrada, trabalhar, fazer o negócio rodar, fazer uma estrutura de divulgação. Nunca foi tão fácil se comunicar com o público. Hoje, qualquer um consegue gravar um disco e colocar na internet. Com a quantidade de informação que tem por aí, qualquer um é capaz de se alimentar das referências mais legais para fazer algo único. Acho que falta fome. É como se houvesse um monte de comida caseira honesta, que é a melhor que tem, e todo mundo só consumisse fast food.
6 Comentários
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Acompanho a banda desde o começo e também percebi grande diferença dos EP's com o CD, meu preferido é o doo ron ron e senti falta de algo no cd. É claro que eu gostei muitooo do cd, mas essa pegada pop ficou bem definida, assim como a intenção da banda! Sucesso aos Vespas!! #Beeware!
Tá errado: "André Dea (baixo) e Flavio Guarnieri (bateria)". O correto é "André Dea (bateria) e Flavio Guarnieri (baixo)".