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Do underground ao mainstream, Hangar 110 comemora 15 anos

UOL Música

18/10/2013 09h28

Marina Tonelli
Do UOL, em São Paulo

Ao transitar pela Rodolfo Miranda entre segunda e sexta-feira, dificilmente as portas duplas de vidro com alguns adesivos desgastados chamarão a atenção. Contudo, ao cair da noite nos finais de semana, a rua é transformada em uma balbúrdia impossível de ser ignorada.

Filas ocupam as calçadas, há um corre-corre em busca de ingressos, vans dividindo o pequeno espaço da rua com vendedores ambulantes e a passagem de som contagia quem estiver por ali. A casa, de aparência pequena, acaba se tornando grande assim como a sua importância para o cenário underground brasileiro.

Estamos falando do Hangar 110, que comemora 15 anos no dia 18 de outubro. Para entender o motivo do local ter se transformado em um importante ponto de referência para muitas bandas, teremos que voltar até 1998, ano de sua fundação.

Nomes como Katinguelê, É o Tchan e Claudinho e Buchecha estavam entre as mais tocadas nas rádios na época. E a Microsoft anunciava o lançamento de algo que revolucionaria a comunicação dali a alguns anos: o sistema operacional Windows 98 e o Google dava suas primeiras engatinhadas em uma rede, ainda extremamente arcaica, de internet.

Ainda não existiam maneiras muito eficazes de divulgação, como acontece hoje. Não era possível, por apenas um clique, espalhar milhares de informações sobre algo novo a qualquer momento, em qualquer lugar. O processo era gradativo, tudo feito boca a boca ou através de publicidade. E quem não tinha algo sólido para ter de onde tirar o investimento? Como divulgaria seu trabalho para chegar até as rádios ou pelo menos atingir determinado público?

Infelizmente, o cenário musical underground no Brasil em 98 estava sendo tratado à duras penas. Os locais que existiam com este propósito, normalmente eram de difícil acesso e sem estrutura suficiente para que as apresentações fossem satisfatórias. A situação ocorria da seguinte maneira: os músicos existiam, inúmeros, e com extrema vontade de tocar para disseminar seu som, mas não havia um lugar que agregasse qualidade, público e oportunidade.

Percebendo este déficit, Marco Badin investiu em um espaço completamente dedicado ao cenário alternativo e underground brasileiro. Não demorou muito para que os músicos abraçassem a causa e o Hangar 110 se transformasse em um lar para diversas bandas. E com o passar do tempo, se tornou um local de parada obrigatória para músicos que gostariam de entrar em evidência na cena hardcore que se formaria aos poucos com a entrada de um novo milênio, os anos 2000.

Contudo, o Hangar não foi palco apenas de grupos nacionais. Bandas como The Varukers, The Exploited e G.B.H. (UK), Agnostic Front (USA), Stiff Little Fingers (Irlanda), Força Macabra e Riistetyt (Finlândia) também fizeram presença em seus palcos. Assim como muitos nomes que mesmo chegando ao mainstream permaneceram fiéis ao Hangar e fazem questão de voltarem a casa sempre que possível, nomes como Forfun, CPM 22, Nxzero, Dance Of Days, Fresno e muitos outros.

Mesmo agora, 15 anos depois, o Hangar 110 permanece firme em sua trajetória. E a Rádio UOL conversou com algumas bandas que fizeram parte desta história para que os mesmos traduzissem através de algumas de suas experiências os sentimentos em relação à casa:

Mi, vocalista do Glória:

"Eu toco no Hangar há muito tempo, bem antes de o Glória surgir, pois fazia parte de uma outra banda, a Dance Of Days, então considero o Hangar minha segunda casa. Fez muita diferença na minha vida e em minha carreira musical, foi um marco importante no Brasil pelo espaço que concedeu ao punk e ao hardcore.  Ajudou muito o cenário underground porque era um lugar que podíamos contar pra tocar e por isso que muitas bandas que vocês veem na televisão ultimamente, já tocaram no Hangar, e conseguiram visibilidade".

Ouça 'Glória' na Rádio UOL

 Nenê, vocalista do Dance Of Days:

"O Marco, fundador do Hangar, foi muito inovador com a ideia de criar o espaço. Antes, nós tínhamos que nos submeter a tocar em casas que não estavam  abertas a rock e não davam valor à banda. Não era só de punk rock, mas de rock mesmo, para abrir espaço para todo mundo com uma boa estrutura e era algo novo para quem viveu nos anos 90."

Ouça Dance Of Days na Rádio UOL

Gee, guitarrista do NXZero:

"O NXZero teve a grande sorte de ter passado pela escola Hangar 110. Quando tinha show por lá era um dia diferenciado e por mais que o tempo tenha passado, a casa sempre vai ter grande importância no cenário musical. Tenho a palheta do primeiro show que fizemos no Hangar guardada, porque vai ficar na minha memória o quanto foi importante a gente ter tocado em um lugar como esse. E é por isso que fazemos ainda pelo menos um show por ano lá. "

Ouça Nxzero na Rádio UOL

Vavo, guitarrista da Fresno:

"O Hangar 110 é um ícone de música brasileira. Qualquer banda que está começando, que está dando os primeiros passos, tem como um dos objetivos principais tocar no Hangar 110. Com a Fresno, há 10 anos, foi assim. Com as bandas que vieram antes de nós, também era assim. E os grupos que surgem hoje também pensam assim. Só isso já diz muita coisa. A gente tem um histórico de dezenas de shows no Hangar 110, e posso dizer que 100% deles foram ótimos, com público fiel e casa lotada. Vale acrescentar o trabalho do Marcão, dono do Hangar, junto com o Piu, o Tom e todos outros que trabalham lá. Sempre trataram nós e todas as bandas com respeito. "

Ouça Fresno na Rádio UOL

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