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Livro brasileiro explora o lado mais sujo e torto do metal americano

UOL Música

06/10/2014 14h01

BlackFlag

Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo

Se por um lado a cena de metal dos Estados Unidos tem diversas safras de bandas capazes de encher arenas, como Metallica, Slipknot e Avenged Sevenfold, por outro há uma cena alternativa que em três décadas de sons sujos, tortos e agressivos se enraizou no underground e ganhou projeção mundial. Misturando metal com elementos do punk e hardcore e muito barulho, bandas com o Black Flag, Neurosis, Down e Mastodon ganharam reconhecimento e adoração de uma parcela dos headbangers, inclusive dos brasileiros, que agora tem um livro para imergirem no tema.

"Nós Somos a Tempestade", escrito pelo jornalista Luiz Mazetto para a coleção Mondo Massari, do ex-MTV Fabio Massari junto à Edições Ideal, traz uma série de entrevistas com os principais nomes do metal alternativo norte-americano e busca traçar um panorama geral da cena. Na base da conversa – e haja papo, são 27 entrevistas – Mazetto percorre o subterrâneo do metal, conectando pontas que poderiam parecer soltas e que unem todo um enorme emaranhado de bandas.

 

Quem poderia esperar um texto corrido, com uma linha mais convencional para relatar passo a passo o desenvolvimento do estilo (na verdade, um estilo de vida, mais que apenas música) tem de atentar ao subtítulo: "Conversas sobre o Metal Alternativo dos EUA". São as conversas que o autor teve com diversas bandas e reuniu para esta obra que traçam de maneira desconexa, mas interessante, tudo o que engloba este cenário.

A escolha foi arriscada. Uma narrativa mais direta, misturando tudo o que foi colhido  facilitaria o entendimento e preencheria mais o contexto para os leitores ainda não iniciados em parte das bandas. Além disso, algumas entrevistas ficam um pouco datadas, já que foram feitas em épocas de lançamentos de discos, por exemplo.

Down

Mas o livro encontra seu valor nos entrevistados, no clima de camaradagem, e na impressão de "eles são gente como a gente" que boa parte dos músicos passa. Para muitos dos protagonistas da obra, a música é um trabalho que precisa ser levado com outras carreiras para garantir o pão de cada dia, então os relatos são francos, emocionados e até viram desabafos bem conduzidos por Mazetto.

Destaca-se no livro a separação dos capítulos, subdividindo as bandas em rótulos que as aproximam: Neurosis está no "precursores", Eyehategod no sludge, Mastodon no sludge progressivo, Converge no "hardcore torto", Isis no pós-metal e por aí vai.

Livro1

Entre os causos e entrevistados, chama a atenção o resgate histórico de Chuck Dukowski sobre momentos do seminal Black Flag, as revelações de Scott Kelly, do Neurosis, sobre Jello Biafra (Dead Kennedys) e os desabafos de Kirk Lloyd sobre como sua vida errática atrapalha o Buzzoven, assim como o drama de John Baizley, do Baroness, que sofreu um grave acidente de ônibus em uma turnê do grupo e sofreu muito para voltar à ativa.

Vale ainda um olhar demorado no prefácio escrito por Nate Newton, do Converge, e na parte gráfica caprichada, com diversos cartazes de shows hipnóticos. Além disso, há uma lista com 50 discos essencias para entender o metal alternativo, que vale ser passada e repassada no último volume.

Mastodon-2014

Principalmente para os fãs de carteirinha, mas também indicando o caminho das pedras para quem quer adentrar neste terreno vasto e sujo do metal alternativo, "Nós Somos a Tempestade" vai em cheio nos pontos centrais desta cena e mostra principalmente que o gênero renegado pelo lado mais mainstream do heavy metal ainda vai fazer muito barulho. Literalmente.

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