A história capilar da música pop
Marina Tonelli
Do UOL
Desde os primórdios, a música é uma das principais formas de expressões do humano. Indo muito além do som, ela também é responsável por influenciar o comportamento e estilo dos ouvintes. E além das roupas, os cortes de cabelo sempre acompanharam e simbolizaram cada era do pop.
Anos 50 – Topete e Brilhantina
Quando Elvis Presley surgiu na década de 50 como um dos pioneiros do rock'n'roll, algo além de suas danças extravagantes e voz inconfundível chamaram a atenção do público, em sua maioria, feminino.
O topete brilhantinado era uma das características marcantes do cantor e sintetizava a rebeldia jovem da época, que usufruía de uma liberdade inédita após o período de guerras da primeira metade do século. O mesmo penteado foi usado por outros grandes nomes da época como Little Richard, Ricky Nelson e Johnny Cash, além do ícone de Hollywood James Dean e desde então tem sido revivido por todas as gerações. Justin Timberlake e Bruno Mars estão entre os topetudos mais recentes do pop.
Anos 60 – Cuias, Afros e Hippies
Em contrapartida em 1964 os Beatles também já haviam conquistado o mundo com suas músicas e os penteados no estilo "tigelinha". No momento em que chacoalhou as cabeleiras na televisão americana pela primeira vez, o grupo se tornou ícone das ideias progressistas da nova geração e a influência que exerceram no cenário musical e cultural se estende até os dias de hoje.
O penteado, influenciado pelos existencialistas franceses simbolizou a "invasão britânica" no rock da época de bandas como Rolling Stones, The Animals e The Kinks e logo conquistou a América, sendo adotado por grupos como The Byrds e Beach Boys.
Nas décadas de 80 e 90 o corte foi recuperado por grandes nomes do rock britânico como Stone Roses e Oasis.
No final da década, seguindo a revolução nos costumes, as cabeleiras cresceram e, mais selvagens e unissex, se tornaram símbolos do movimento hippie.
Paralelamente, o movimento black power questionava o racismo e a estética dominante da cultura branca. Foi quando James Brown, no auge do sucesso, abandonou o cabelo alisado. O rei da música negra assumiu um penteado afro combinando ao discurso mais politizado e as mudanças musicais de um novo estilo, o funk.
O penteado virou padrão na comunidade afro-americana e foi adotado por outros ídolos da época, incluindo Jimi Hendrix, Sly Stone, Ike Turner e The Jackson 5.
A tendência dos cabelos negros naturais se manteve nos anos 80 e 90, através dos grupos de rap afrocêntricos como A Tribe Called Quest e Arrested Development. Os penteados variavam entre versões de flap top (o popular "escovinha"), com desenhos esculpidos com navalhas.
Começo dos 70 – Glam e Rastafaris
Com a chegada dos anos 70, a crise do petróleo atingiu os Estados Unidos e o Reino Unido, inflamando ainda mais as revoluções sociais da década passada. Deste cenário surgiria um ser de outro mundo que chocaria com uma explosão de cor e um corte mullet imortal: David Bowie e seu alter-ego, o interplanetário Ziggy Stardust. A estranheza e a falta de vontade de se enquadrar em padrões estéticos e sexuais foram a inspiração para esse corte desfiado e assimétrico, curto na frente e comprido atrás, que contrastava radicalmente com o naturalismo dos hippies.
O mullet, que foi repaginado na última década e utilizado ironicamente por hipsters de todo o globo, já foi utilizado em formas diversas por nomes como Rod Stewart, Bono Vox, Cyndi Lauper e Joan Jett sendo popularizado no Brasil em duplas sertanejas como Chitãozinho & Xororó e Zezé Di Camargo & Luciano.
Outra novidade que tomou de assalto o cenário da época foi o reggae, popularizado internacionalmente por Bob Marley a partir do álbum "Catch a Fire" de 1973. Marley e sua banda, The Wailers associaram para sempre o gênero jamaicano à religião rastafari e, consequentemente aos longos cabelos denominados "dreadlocks", ou apenas "dreads".
Nas décadas seguintes os dreads se popularizaram, indo muito além do reggae e dos rastafaris, sendo adotados até mesmo por bandas de metal, como o Korn e o Soulfly de Max Cavalera.
Final dos anos 70 e começo dos 80 – Punk e New Wave
No final dos anos 70 e logo no inicio dos 80, o punk surgiu para romper com tudo e todos e mais uma vez os penteados se fizeram presentes para ilustrar a identidade do movimento. Os riffs rápidos e agressivos das guitarras ganharam a personificação perfeita com a chegada dos cabelos espetados de ícones como Sid Vicious, do Sex Pistols, Siouxsie Sioux e Joan Jett.
A partir de 1980, a segunda onda do movimento imortalizaria o moicano como símbolo do estilo. O principal responsável foi o vocalista Wattie Buchan, da banda escocesa The Exploited. Três décadas depois, o corte de inspiração indígena sobrevive bem longe da rebeldia punk nos cucurutos de ídolos sertanejos como Lucas Lucco e jogadores de futebol como David Beckham e Neymar.
Neste cenário, surgiu a ala mais comercial da geração punk: a new wave.
Diferentemente do primo mais radical, a new wave era bem humorada, com uma estética que brincava de forma irônica com a cultura trash e a sociedade de consumo, misturando referências das décadas de 50 e 60 ao que poderia haver de mais moderno na época.
Em alguns casos, como no da banda Devo, os cortes eram curtos, combinados a uma estética futurista, enquanto as vocalistas da banda The B-52's reviveram os "bolos de noiva" da década de 60 em versão ainda mais exagerada. Outros nomes que aderiram ao estilo, cada um à sua maneira foram bandas como Blondie, The Human League e Talking Heads.
Anos 80 – Hard rock
Em sua versão mais extravagante, apelidade de "Hair Metal" ("metal de cabelo"), o hard rock foi uma febre nos anos 80 com penteados armados em combinação exagerada de maquiagem chamativa e roupas apertadas. Se visualmente era uma aparência andrógina e de caras e bocas, os temas retratados por bandas como Mötley Crüe e Poison eram odes altamente heterossexuais ao sexo, drogas e rock 'n' roll.
Os escândalos envolvendo strippers e todo o glamour que envolvia o cenário serviam como um imãs para o público feminino, conquistado em grande parte com ajuda de videoclipes superproduzidos que exploravam com perfeição o apelo visual das bandas.

Poison
No final da década, a banda Guns N' Roses surgiu deste cenário como um antídoto à pose extrema, devolvendo ao hard rock a rebeldia, personificada nas caóticas madeixas do guitarrista Slash. Recuperando a aspereza do som da década de 70, mostraram que o hard rock poderia ir muito além da pose.
Anos 90 – Grunge e Clubbers
Se o Guns N' Roses já havia devolvido o perigo ao hard rock, no início dos anos 90, o grunge surgiu como a antítese de toda a maquiagem e brilho que o "hair metal" havia espalhado pelo mundo. Misturando características do punk e dos primórdios do heavy metal da década de 70, bandas como Nirvana e Pearl Jam chegariam ao topo das paradas de sucessos. Os corte de cabelo naturais e aparentemente sem cuidados virou tendência mundial, trazendo a introspecção e o desleixo de volta ao cenário musical.
Se por um lado o Nirvana imortalizava suas canções, sua exposa a vocalista da banda Hole Courtney Love se tornou o ícone feminino do gênero, com um novo estilo batizado "kinderwhore", em que se mesclavam elementos infantis com peças de roupa sensuais, cabelos loiros amarelados com raízes por fazer.
Algumas das seguidores foram Shirley Mason, do Garbage e, atualmente, a cantora Taylor Momsen, da banda The Pretty Reckless.
No outro extremo da seriedade do grunge, estava o hedonismo dos clubbers. Os fãs da música eletrônica frequentadores de raves ousavam em todos os aspectos do visual. A liberdade total na escolha de referências é bem representados pelo corte de cabelo indescritível de Keith Flint, vocalista do The Prodigy. O corte, que se assemelhava a dois chifres esverdeados, fazia uma releitura invertida da estética punk, trazendo de volta as cores extravagantes.
Por hoje ficaremos na década de 90, em breve voltaremos com os principais penteados do século 21.
Na opinião de vocês, leitores, quais foram os principais cortes de cabelo do ano 2000 até hoje?
3 Comentários
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tirei 10 no trabalho de musica
Ótimo histórico das eras musicais e dos rebeldes que as representaram e representam. Ultimamente os cabelos estão mais comportados vejo muito revival do estilo Elvis estilizados como o de Luan Santana, ou só o topete na cabeça o resto bem curtinho, homens com cabelos compridos muito bem tratados, enfim conforme a época o estilo vai e volta, em questão de cabelo já se fez de tudo.