Quem inventou a bossa nova, o punk e o heavy metal? A Rádio UOL explica

A música vai evoluindo ao longo dos anos, e sempre encontra pontos de reviravolta em que algum artista ou banda faz um som muito revolucionário, inovador ou diferente de tudo o que já foi visto.

É claro que nunca dá para afirmar que alguém tirou tudo da cartola, pois todos têm influências e bebem da fonte de outros nomes, mas por mais que existam referências anteriores, podemos falar sobre alguns dos maiores inventores de estilos de todos os tempos.

Rock 'n' Roll

Existem muitas controvérsias sobre quem foi o gênio responsável pela invenção do rock. Entre grandes nomes do blues, da música country e mesmo do jazz, os candidatos são tantos que é inútil insistir na discussão.

Bill Haley foi um dos pioneiros ao trocar a música caipira pelo rhythm and blues acelerado já no início da década de 50, mas era inofensivo e velho demais para ser considerado um roqueiro legítimo. Afinal de contas, rock não é só música.

Elvis Presley, no entanto, tinha apenas 19 anos, visual e atitude selvagens quando, em 5 de julho de 1954, gravou seu primeiro single, "That's All Right".

Em meio a um teste em que cantou baladas e canções gospel, o futuro rei do rock pegou o violão durante um intervalo e, de brincadeira, cantou um sucesso do bluesman Arthur Big Boy Cruddup numa versão acelerada e com toques country, que soava diferente de qualquer coisa que o produtor Sam Phillips já havia escutado na vida.

Phillips, que costumava dizer que ficaria milionário se encontrasse um cantor branco que cantasse como negro, percebeu que havia tirado a sorte grande. Nascia aí o primeiro rockstar da história e também o rockabilly, a vertente sulista do rock 'n' roll, a partir da combinação dos elementos mais crus da música negra e branca da época.

Bossa Nova

A bossa nova levou a música brasileira às paradas de sucesso internacionais numa época em que o Brasil despontava globalmente. O país havia sido campeão mundial de futebol pela primeira vez e a fundação de Brasília estava prestes a acontecer.

Faltava uma resposta musical a este cenário de modernização. Até meados de 1959, quando João Gilberto lançou o compacto "Chega de Saudade".

Misturando a batida do samba com harmonias jazzísticas e uma maneira de cantar quase sussurrada, a música, que já havia sido gravada por Elizeth Cardoso sem grande, dava o pontapé inicial da bossa nova.

Antes disso, no entanto, o gênero arquitetado por nomes como, João Donato, Johnny Alf e o próprio Tom Jobim que, cada um à sua maneira, já estavam incorporando influências do jazz à batida do samba.

Crédito: Arquivo Pessoal/Reprodução

Tropicalismo

Na década seguinte, o contexto cultural, político e social do país era completamente diferente. Em meio à ditadura militar, os Festivais de Música Popular Brasileira se tornaram importantes canais de comunicação entre os artistas e o público, ganhando força à medida que o regime intensificava sua censura.

Em 1967, a psicodelia havia dado uma nova dimensão ao rock. Os Beatles lançavam o álbum "Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band" e Jimi Hendrix estourava revolucionando a guitarra elétrica.

Esta revolução chegou ao Brasil e atingiu os baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil, que fizeram o que até então era impensável e se apresentaram no festival da TV Record daquele ano acompanhados respectivamente dos Beat Boys e dos Mutantes, duas legítimas bandas de rock.

Nascia aí a tropicália, movimento que se expandiria para outras formas de arte, revivendo a chamada antropofagia do escritor Oswald de Andrade ao renovar a cultura brasileira absorvendo influências internacionais.

Heavy Metal

O mundo já estava vivendo o período da Guerra Fria e os apelos por paz e amor se intensificavam na música quando quatro garotos ingleses resolveram nadar contra a maré e cantar sobre demônios, monstros, fadas de botas, batalhas e bruxas.

Após perder as pontas de dois dedos ainda jovem, o guitarrista Tony Iommi precisou afinar as cordas em um tom mais grave para não sentir dor ao tocar e descobriu uma sonoridade pesada, aterrorizante e densa que mudaria o rock para sempre.

Dessa forma, o Black Sabbath inventou, com seu disco de estreia, de 1970, o heavy metal, apesar de algumas experiências anteriores bem-sucedidas com timbres bastante distorcidos em faixas de Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Cream, e até dos Beatles, em "Helter Skelter".

Crédito: Reprodução

Soul Music e Funk

Soul foi o nome dado à música pop negra dos Estados Unidos a partir da década de 60. O estilo teve vários pais, mas todos eles utilizaram os mesmos elementos: a mistura da música gospel das igrejas afroamericanas à base do rhythm and blues.

Ray Charles fez isso em 1954 no clássico "I Got a Woman", que nada mais era do que uma canção tradicional de igreja que substituía a letra original pela temática profana. James Brown fez algo parecido em 1956, com o hit "Please Please Please", em que implorava pelo amor de uma garota com fervor religioso.

Já Sam Cooke começou a carreira como um dos maiores astros da música gospel. Até que, em parte pela comoção do público feminino – mesmo no circuito religioso -, resolveu tentar a sorte no cenário secular. A parte musical não mudou muito. Bastou trocar as letras de louvor pelo bom e velho romance para se tornar uma das grandes estrelas da década de 60.

Crédito: Divulgação

Depois de ajudar a criar o soul, James Brown não se contentou e seguiu aprimorando seu estilo. Em 1965, lançou "Papa's Got a Brand New Bag", cuja batida econômica e suingada, e os vocais rítmicos, quase sem melodia, remetiam à crueza dos tambores africanos. Era o prenúncio de uma nova era na música negra.

Nascia o funk, que logo se tornaria a trilha sonora da era black power, no final dos anos 60 e também na década seguinte.

Crédito: Reuters

Punk Rock

Se por um lado, pioneiros como MC5, Stooges, New York Dolls, Patti Smith e The Dictactors foram chamados de punks, cada um à sua maneira, foram os Ramones que configuraram o estilo à maneira como ele veio a ser conhecido.

Lançado em maio de 1976, o álbum de estreia "The Ramones" trazia o rock a seu mínimo denominador comum, combinando a energia da década de 50 e os refrães  grudentos da década de 60 a uma muralha de guitarras distorcidas e um minimalismo sem precedentes.

Diz a lenda que a primeira apresentação da banda na Inglaterra, em julho do mesmo ano, marcou também o início do movimento punk inglês, que logo se espalharia pelo mundo, comandado por bandas como o Sex Pistols e The Clash.

Crédito: Divulgação

Hip Hop

As raízes do rap remontam à Jamaica da década de 60, quando DJs como Prince Buster e King Stitt começaram a falar por cima de bases instrumentais pré-gravadas em discos de vinil.

Outra fonte importante foi o poeta americano Gill Scott Heron, que recitava suas poesias de libertação negra sobre bases que misturavam o funk e o jazz.

Mas o movimento hip hop nasceu mesmo na década de 70 em Nova York, nas chamadas block parties, festas organizadas em lugares públicos e animadas por DJs. Um deles era o imigrante jamaicano Kool Herc, que desenvolveu as técnicas de scratch e mixagem utilizadas até hoje.

Paralelamente, os MCs (mestres de cerimônia) rimavam por cima das bases no que se tornou mania no undergroud nova iorquino. Até que "Rappers Delight", do grupo Sugar Hill Gang, se tornou, em 1979, o primeiro sucesso do rap, espalhando o gênero pelos quatro cantos do planeta.

É difícil definir até que ponto exatamente esses nomes foram responsáveis pela criação desses estilos, mas é inegável que eles realizaram grandes revoluções no mundo da música e, sem sombra de dúvida, influenciaram as gerações que se seguiram e ainda têm importância até hoje.

E na sua opinião, quais foram os pioneiros que criaram estilos mas ficaram de volta?