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"Roxanne foi composta como Bossa Nova", diz guitarrista do Police

UOL Música

17/11/2014 17h22

Um dos grandes guitarristas da história do rock, Andy Summers ficou mundialmente famoso por seu trabalho com o The Police entre 1977 e 1984. O estilo inconfundível ao mesmo tempo econômico e sofisticado fez dele um dos músicos mais influentes do rock na década de 80, ajudando a banda a vender mais de 100 milhões de discos.

Misturando sofisticação e sensibilidade pop, riffs como os de "Every Breath You Take", "Roxanne" e "Message in a Bottle" demonstraram que havia espaço para a guitarra na estética new wave e ajudaram a fazer do The Police um raro exemplo de banda que agrada tanto ao grande público como aos músicos mais exigentes.

A relação de Summers com o Brasil vem desde a adolescência, quando viu o filme "Orfeu Negro" (1959). Depois disso, esteve no Brasil com o The Police em 1982 e na turnê de reunião da banda em 2007, diante de um Maracanã lotado. Além das visitas com a banda, o guitarrista veio ao país muitas vezes tocar ao lado de nomes como Fernanda Takai e Roberto Menescal. "Os shows menores são meus favoritos", diz.

Desta vez, os shows – no Rio nesta segunda-feira (17) e em São Paulo na terça (18), fazem parte de um projeto ao lado do baixista Rodrigo Santos, do Barão Vermelho. O show terá como base um mix do repertório do Barão Vermelho e do The Police, além da parceria "Me Dê Um Dia A Mais". O vocalista do Barão Roberto Frejat dará uma canja especial.

Em entrevista exclusiva, Andy Summers falou à Rádio UOL sobre os shows, sua relação com o Brasil e sua carreira anterior ao Police.

Você já veio muitas vezes ao Brasil, como está sendo voltar desta vez?

Andy Summers – É sempre muito bom voltar, me divirto muito e volto para casa de bom humor. É muito diferente tocar aí com o Police e fazer shows menores com artistas brasileiros. Com o Police tudo é tão enorme que você viaja numa espécie de casulo político, tudo muito organizado, uma grande tensão. Shows como os que estou fazendo agora são muito mais relaxados, de certa maneira eu prefiro assim. É mais natural, amigável, mais próximo do público. É minha maneira favorita de tocar.

OUÇA THE POLICE NA RÁDIO UOL

Fale um pouco sobre seu projeto com o Rodrigo Santos. Como aconteceu? O que vocês vão tocar?

Summers – Fui apresentado ao Rodrigo, nos conhecemos casualmente no Rio algumas vezes. Ele conhecia meu trabalho, eu não conhecia tão bem o dele, mas fui vê-lo tocar, dei uma canja e senti que havia uma conexão ali. Depois ele lançou um álbum e eu colaborei numa faixa.

Então os shows foram uma consequência lógica disso tudo. Vamos tocar músicas do Police e músicas do Rodrigo, vai ser uma mistura. Nós juntamos há poucos dias, então tudo ainda é muito novo.

Seu estilo combina bem o rock e o jazz e você começou a carreira tocando rhythm & blues. Como você desenvolveu seu estilo com essa mistura de influências?

Summers – Como músico eu sempre tive um gosto muito eclético. Na juventude eu era completamente louco por jazz, mas era muito difícil ganhar a vida nessa área. Hoje é quase impossível.

Então, meu primeiro trabalho profissional foi numa banda de Rhythm & Blues, a Zoot Money's Big Roll Band. Fazíamos muito sucesso, tocávamos covers de r&b americano como James BrownRufus Thomas, essas coisas. Foi muito bom para aprender, mas sempre fui ligado a vários estilos musicais diferentes e o que sempre me guiou foram as harmonias.

Cresci apredendo improvisação no jazz e uma vez que você domina isso, você pega o blues e o rock com facilidade. Depois no Police fui tocar com o Sting e o Stewart Copeland, que tiveram formações muito parecidas com a minha, no jazz e jazz fusion, apesar de sermos uma banda de rock. Você se torna um músico mais interessante quando faz coisas diferentes.

Ainda jovem, também acabei me interessando por música brasileira e violão clássico e fui incorporando tudo isso.

A banda de Zoot Money em 1964 - Andy Summers é o penúltimo da esquerda para a direita

A banda de Zoot Money em 1964 – Andy Summers é o penúltimo da esquerda para a direita

Como você conheceu a música brasileira e o que te atraiu?

Summers – Foram duas coisas. Vi o filme "Orfeu Negro" na Inglaterra aos 16 anos e me entusiasmei muito, foi a primeira vez que o Brasil tocou minha consciência. A trilha tinha músicas lindas como "Felicidade" e "Manhã de Carnaval" e isso me inspirou a pesquisar mais sobre a música brasileira.

Anos depois, fui estudar música na faculdade em Los Angeles e aprendi muito sobre música brasileira, foi na época em que a Bossa Nova estava tendo um grande destaque internacional.

A coisa mais marcante na música brasileira são as harmonias. Os músicos brasileiros costumam ter ouvidos maravilhosos por causa disso. O Roberto Menescal é um exemplo. Essa combinação das harmonias complexas com o ritmo do samba soa muito natural, foi uma sacada muito interessante que criou um estilo musical muito sedutor e totalmente brasileiro. A bossa nova não é tão popular como já foi, mas está fincada firmemente na cultura brasileira.

A música brasileira influenciou sua maneira de tocar no Police?

Summers – Totalmente! Essa influência fazia parte de mim! Quando você começa a tocar com alguém desconhecido é estranho, você vai descobrindo os pontos em comum logo descobrimos que tínhamos esse amor pela música brasileira.

No início nós éramos uma banda punk, mas a verdade é que "Roxanne" foi composto com batida de bossa nova num violão de cordas de nailon! Então a influência brasileira estava lá, definitivamente, desde o começo!

O som da banda veio daí, não éramos punks aprendendo a tocar, já éramos músicos sofisticados com uma formação na música brasileira e no jazz de Thelonious Monk, John Coltrane, Miles Davis, além dos Beatles, Stones e dos grandes nomes do blues. Tudo isso fez parte da nossa música.

Muita gente não conhece sua história anterior ao Police, mas quando entrou na banda em 1977, você já era profissional há muito tempo e passou a década de 60 tocando na noite londrina com o Zoot Money, Eric Burdon, Dantalian's Chariot, Gong e outras bandas importantes.

A cena britânica da época é considerada até hoje como um cenário mitológico, um dos pontos altos da história do rock. Era tudo isso mesmo ou existe um certo exagero?

Summers – Era maravilhoso! Foi um momento fantástico mas não durou mais do que três ou quatro anos. Os anos 60 não foram a década toda, entende? Não poderia haver época melhor para ser jovem. Pode soar estranho, mas acho que o rock era muito melhor naquele tempo.

Foi uma era em que tudo mudava, em que tudo teoricamente ficou livre. Pelo menos parecia. porque estávamos todos tomando muitas drogas e expandindo a mente, então acreditávamos que estávamos mudando o mundo. E a contracultura mudou o mundo mesmo. Vínhamos da segunda guerra e dos anos 50, então vieram os Beatles, os Stones e a psicodelia e o mundo mudou de fato em alguns aspectos. E a contracultura nunca mais foi embora.

A formação clássica do The Police, com Stewart Copeland (bateria), Andy Summers (guitarra) e Sting (baixo e voz)

A formação clássica do The Police, com Stewart Copeland (bateria), Andy Summers (guitarra) e Sting (baixo e voz)

Deixando o passado de lado, faz algum tempo que não acontecem inovações na maneira de tocar guitarra que tenham chegado ao cenário mainstream como por exemplo Hendrix, Eddie Van Halen e você conseguiram fazer. Você vê guitarristas atuais fazendo algo que te chama a atenção?

Summers – Essas coisas não começam diante do grande público logo de cara, elas vêm do lado de fora e acabam sendo absorvidas. Com o Police foi assim, batalhamos muito no primeiro ano até a coisa pegar.  Então tenho certeza que existe gente fazendo coisas muito interessantes por aí, só não sei se vão chegar ao mainstream.

É difícil generalizar e eu odeio dizer isso, mas o rock está datado. O rock "guitarreiro" que todos nós amamos, pelo menos. Os novos sons parecem vir mais de uma área mais eletrônica.

Muita coisa que chega ao grande público atualmente é basicamente a mesma porcaria que você ouviu a vida toda. Cada geração tem seus ídolos pop, você hoje tem Taylor Swift, Lady Gaga, sei lá, mas não é ninguém realmente diferente do que nós já vimos antes, são apenas novas caras. Ninguém vai inventar um novo acorde ou algo assim, porque isso não se encaixa na música pop.

Mas gosto dos Strokes, do Grizzly Bear e outras bandas novaiorquinas. Mas o que acontece é que quando alguém faz sucesso com algo novo, todo mundo começa a imitar.

Para terminar, você pode escolher cinco guitarristas importantes na sua formação?

Summers – Nunca fui muito influênciado por guitarristas de rock, então vou escolher no jazz e na música brasileira:

Wes Montgomery
Kenny Burrell
Baden Powell
-Garoto
Guinga

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ANDY SUMMERS E RODRIGO SANTOS NO RIO
Quando – 17/11 – Segunda-feira
Onde – Teatro Oi Casa Grande  – Rua Afrânio de Mello Franco, 290 – Leblon
Horário – 21h
Preço – De R$ 80 a R$ 150
Fone: 021 -2511-0800

ANDY SUMMERS E RODRIGO SANTOS EM SÃO PAULO
Quando – 18/11 – Terça-feira
Onde – Bourbon Street –  Rua dos Chanés, 194 – Moema
Horário – 21h30
Preço – De R$ 60 a R$ 110
http://www.ingressorapido.com.br/evento.aspx?ID=37128

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Este é o blog oficial do UOL Música Deezer. Com ele, nós da equipe e nossos colaboradores podemos nos comunicar com os ouvintes, sugerindo, informando, divulgando e discutindo tudo que diz respeito ao universo musical. E é claro, ouvindo o que vocês têm a dizer. Ouça, leia e comente!

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Linus Stalmani

The Police foi uma das melhores bandas de Rock/Pop/Reggae do inicio dos anos 80. Durou pouco, mas o suficiente para influenciar muita gente, ao redor do mundo. Os Paralamas no início da carreira, tinham o Police como uma forte influência. Vale mencionar que eles usaram e abusaram de acordes com nona, por exemplo ( G9 Em9 C9 D9 ) , sem dúvida um excelente guitarrista e ouvir a banda ainda hoje é prazeroso e inspirador.

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