Saiba porquê mesmo com mais de 30 anos, o Depeche Mode continua relevante
Marina Tonelli
Do UOL, São Paulo
O que você esperaria de uma mistura de The Clash, David Bowie e Velvet Underground? As opções são diversas e a resposta certa não viria no primeiro palpite. Os três ícones do rock da década de 70 foram responsáveis pela criação de uma das bandas mais influentes do mundo, segundo o vocalista Dave Gahan: o Depeche Mode. Mas por que, após 30 anos de carreira, o grupo permanece relevante no meio musical?
Lançando "Live In Berlin Soundtrack", o Depeche Mode responde parte da questão com o setlist abarrotado de hits. Da primeira a última música, o interesse do público prevalece intacto apesar do extenso setlist de 21 canções, provando que os britânicos ainda fazem jus ao título de "bandas de estádio" junto com nomes como U2, R.E.M e The Rolling Stones.
OUÇA O DISCO "LIVE IN BERLIN SOUNDTRACK" DE DEPECHE MODE
Entre os sucessos mais antigos como "Just Can't Get Enough", música responsável pela primeira participação do grupo entre as 10 músicas mais ouvidas do Reino Unido em 1981, e "Shake The Disease" em uma versão surpreendente cantada a capela pelo guitarrista Martin L. Gore, surgem "Welcome to My World", "Angel" e "The Child Inside". Músicas que, para os desavisados, poderiam ser confundidas facilmente com o auge da carreira da banda, mas que estão presentes no disco de 2013, "Delta Machine".
Mas hits de outras décadas não sustentam a relevância atual de uma banda nos dias de hoje. A técnica de se apoiar em revival's infinitos pode funcionar para shows, mas não mantém uma imagem que influencie novos artistas em ascensão. No caso do Depeche Mode, podemos enxergar o diferencial desde a década de 80. O grupo inovou o cenário eletrônico com samples sinistros que criavam uma atmosfera própria e mascarava a característica crítica e sarcástica de letras como "Master and Servant", "People Are People" e "Blasphemous Rumours",
OUÇA O DISCO "DELTA MACHINE" DE DEPECHE MODE
Além da inovação sonora, a banda inglesa foi um dos ícones da cultura gótica que ganhou forma na década de 80 e principal expoente da explosão da dance music americana na década de 90. Baladas como "Strangelove", "Personal Jesus" e "Enjoy The Silence" continuam atuais e até mesmo os sucessos posteriores dos anos 2000, como "Wrong", "Peace" e "In Chains", continuaram relevantes para o cenário musical. Além da inegável influência exercida sobre bandas conceituadas como Deftones, The Smashing Pumpkins e Pet Shop Boys, e também para grupos atuais como Coldplay, The Killers e Franz Ferdinand.
Se atualmente vivemos em um cenário vazio em que as bandas são obrigadas a simplificar ao máximo suas referências para atingir a um determinado público estipulado, o Depeche Mode surge mais uma vez para provar sua relevância. O grupo mostra que ainda é possível com mais de 30 anos de carreira continuar produzindo novas letras questionadoras sem perder a sombria essência oitentista e, ao mesmo tempo, lotar estádios sem necessariamente se apoiar apenas nos hits passados.
26 Comentários
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Para mim, que sou fã há quase 30 anos o Depeche ainda tem a sua relevância, entretanto, para o público em geral aqui no Brasil, que ouve somente o que toca nas FM´s, nem conhece. E isso é fato. Quando comento sobre grupos como Depeche para a maioria dos que tem menos de 25 e só ouvem o que escutam nas rádios pop, eles perguntam quem são. Acho que um dos problemas são as rádios de grande alcance que só tocam sucessos imediatos, e não se preocupam em preservar e divulgar o que é bom. Lembro-me quando eu tinha meus 12, 13 anos conheci Elvis, Led Zepellin, entre outros, pq as rádios "pop" tocavam na programaçao. De tabela, Depeche, New Order e outros eram divulgados e faziam sucesso. Para a nova geração, são quase desconhecidos. Isso faz com que, por exemplo, tenhamos problemas para trazer os caras para cá, já deixaram de vir para o Brasil duas vezes seguidas por medo das produtoras terem prejuízo. No fim, o prejudicado é o publico.
Até 1988, todos os discos (e eram discos ou fitas cassete mesmo) traziam uma reflexão alarmista e negativista sobre o mundo industrial. Em fins da guerra fria, Music for the Masses tinha esse tom alarmista, tanto que a musica para as massas que eles se referem são os sons das sirenes de alerta de uma indústria nuclear (como exemplifica brilhantemente a capa do disco). Porém percebemos que o DP elevava o alarmismo a potências psicodélicas sem retorno. Pessimismo profundo? Realidade revelada? Ou simplesmente "pregadores do caos"? O DM continua pregando o caos até hj (aliás, este parece ser a sua missão), mas não do ponto de vista "macro" (como foi nos anos 80), mas do ponto de vista pessoal, no mundo de cada um.