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Bob Marley 70 anos - os artistas comentam o legado do Rei do Reggae

UOL Música

06/02/2015 08h00

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A importância de alguns artistas transcende a própria música. São ícones pop que se tornam referência comportamental e símbolos que atravessam gerações. Em meio a nomes como Beatles, Elvis, Stones, Madonna, Michael Jackson e Frank Sinatra um deles é o único que veio do terceiro mundo: Bob Marley, o profeta do reggae, que estaria completando 70 anos nesta sexta-feira.

Responsável pela popularização mundial da música jamaicana a partir da década de 70, Bob Marley hoje está presente em estampas de roupa, pôsteres, adesivos de carro, faixas e incontáveis outros adereços, se tornando um símbolo da estética rastafari, que se tornou um dos igredientes do caldeirão cultural do século 21.

Para homenagear esse grande estandarte da cultura pop internacional, a Rádio UOL coletou depoimentos de artistas e especialistas no assunto.

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Alexandre Carlo, líder e vocalista do Natiruts, revelou que, para ele, a música que não pode faltar em uma lista de reprodução de Bob Marley é "Natty Dread", do disco homônimo de 1974, que traz em suas faixas a icônica "No Woman No Cry". Quando perguntado sobre a importância do artista na música internacional, Alexandre é categórico em afirmar: "Ele mudou o mundo".

E quem diria que Luiz Gonzaga não gostou do som de Bob Marley quando ouviu pela primeira vez? Quem conta essa história é Tato, vocalista do Falamansa: "Quando ele ouviu pela primeira vez, disse: 'ô xotezinho sem vergonha esse'. Ele chamou o reggae de xote, ou seja, a influência que eu tenho de Luiz também passa pela influência de Bob Marley".

Tato recorda que a primeira vez que ouviu Bob foi através da versão de Gilberto Gil de "No Woman No Cry", "Não Chores Mais". "O que me tocou foi o lance de emocionar ao mesmo tempo que tem algo importante para o lado social". Para o líder do Falamansa, "Bob Marley foi um pacificador".

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Uma faceta marcante do rei do reggae é o engajamento social e político. Essa característica é bastante marcante em faixas como "Get Up, Stand Up" e "Revolution", que, segundo Helio Bentes, vocalista do grupo de reggae brasileiro Ponto de Equilíbrio, não podem faltar na playlist dele.

"A importância de Bob Marley e sua influência na música brasileira são enormes", afirma. "Desde quando nosso mestre da MPB Gilberto Gil fez a versão de 'No Woman No Cry', a influência do reggae na musicalidade brasileira só cresce", completa.

"Acredito que o reggae está até inconscientemente na nossa MPB às vezes, pois abrasileiramos o reggae e incorporamos ao nosso caldeirão cultural", conta Hélio, que à frente do Ponto de Equilíbrio é um dos principais responsáveis pelo sucesso atual do gênero no Brasil.

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Um dos nomes mais importantes na explosão do rock nacional na década de 80, os Paralamas do Sucesso também estão entre os pioneiros na popularização da música jamaicana no Brasil. "A música mas Marleyana dos Paralamas se chama 'Teerã', do disco 'Selvagem?', que tem um pouco de "Could You Be Loved", confidenciou o baixista Bi Ribeiro.

Bi, cujas linhas de baixo talvez sejam o elemento mais jamaicano do som dos paralamas, torceu o nariz para o reggae inicialmente. "Comecei a ouvir Bob Marley nos anos 70, porque o Hermano Vianna, irmão do Herbert, mostrou para a gente. Não gostei muito, porque gostava de rock. Achei tudo muito parecido, não me encantou no meu primeiro contato".

"Só fui gostar de reggae no comecinho dos anos 80, quando apareceram os toasters, os jamaicanos que faziam essa coisa de falar por cima da música e influenciaram o rap. Depois disso comecei a ouvir Bob Marley e reconheci o valor dele não só para o reggae, mas para a música universal, com letras brilhantes, a melodia maravilhosa, e composições muito boas. Eu me rendi", confessa o músico. "Bob Marley é um cara acima de tudo. Não tem como não ser influenciado",

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A principal influência de Bob Marley sobre os Paralamas do Sucesso não ocorreu diretamente no entanto, mas através de ex-integrantes de sua banda de apoio, que deram ao trio brasileiro uma aula de reggae.

"Quando abrimos a excursão do Jimmy Cliff em 1984, alguns dos músicos haviam tocado com o Bob Marley. Eles nos influenciaram bastante, pois a gente estava ainda no primeiro disco. Fez muita diferença ver como aqueles jamaicanos  tocavam, como seguravam os instrumentos, como tiravam o som", relembra o baixista.

"Ele era um ótimo melodista, fazia canções maravilhosas. Podia nem ter sido reggae, mas as músicas estariam aí até hoje", analisa Ribeiro. "O reggae influenciou e influencia até hoje muitas vertentes da música pop. Isso é de uma importância muito grande também. A música eletrônica de hoje veio do dub que veio do reggae. Ele trouxe para a música pop elementos que são fundamentais até hoje", acrescenta.

Os apresentadores do programa Reggae Raiz não poderiam deixar de comentar sobre essa data tão importante. "É interessante pensar que Bob Marley valoriza a história, a cultura e a musicalidade do povo negro", analisa China Kane. "E ele, que foi uma pessoa emblemática, porque tinha o pai branco e a mãe negra, sempre encontrou um pouco de preconceito, pois os negros da Jamaica achavam que ele era branco e os brancos achavam que ele era negro. Ele procurou, na sua ideologia, nas suas músicas, nas suas letras, colocar sempre essa reflexão. Quando você precisa passar a sua verdade, você tem que realmente enfrentar tudo e todos", completa ele.

"Ele sempre pregou a união da África e a união das pessoas no amor, na música e numa conduta legal. Por isso que o reggae acabou se tornando uma música de paz. Você vê que não acontecem muitos problemas em lugares onde rola reggae, pois esse é um gênero que não incita o ódio, e sim estimula a compreensão", pontua Jai Mahal, do Reggae Raiz. "Bob Marley foi um dos maiores porta-vozes dessa compreensão e sintetizou a civilização de uma certa maneira através da cultura que ele teve na ilha da Jamaica e trouxe esse país para o mapa. A Jamaica foi muito importante, pois na descoberta do novo mundo ela foi um entreposto de escravos, então era quase um símbolo dos problemas da civilização, onde há escravidão e exploração do homem pelo homem. Bob Marley pregava justamente o fim dessa exploração", afirmou ele.

 

Sobre o lado engajado politicamente de Bob Marley, China Kane se lembra de um de seus clássicos: "Na música "Get Up Stand Up", que virou um tema da anistia internacional sobre os direitos do mundo todo, Marley e Peter Tosh colocaram que você tem que ficar de pé, levantar e lutar pelos seus direitos. Nunca abandonar essa luta. Ele tem essa coisa muito importante", conta ele que também falou do lado espiritual de Bob. "Ele também divulgou a religião rastafári, que é uma religião do povo negro e tem influência da Etiópia, um país que tem mais de 3 mil anos de história. Essa coisa da revolução, da cultura, e de valorizar a raça humana, independente da cor da pele, é o maior legado de Bob Marley e também de seus companheiros Peter Tosh e Bunny Wailer, para todo o mundo. Temos que pensar na raça humana e no planeta Terra como nosso templo", conclui China.

André Cáceres
Rádio UOL

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