30 anos de Golpe: banda supera morte de guitarrista e anuncia novos shows
Após superar a traumática morte de Hélcio Aguirra no ano passado, a banda Golpe de Estado anuncia novos shows para divulgar o álbum "Direto do Fronte", último gravado pelo guitarrista. A banda ainda tem planos de lançar compactos inéditos em 2015, para comemorar os 30 anos. Será que um novo Golpe vem aí?
Em 1989, a poucas semanas de lançar o seu terceiro álbum, "Nem Polícia Nem Bandido", o Golpe de Estado causou alvoroço nos leitores de "O Estado de S. Paulo". É que para divulgar o trabalho da banda, o primeiro pela Eldorado, a gravadora decidiu publicar um anúncio no 'sisudo' jornal paulistano com a seguinte chamada: "O Golpe vem aí!".
E veio mesmo. Nos anos 1990, o grupo participou de todos os programas de televisão, lançou inúmeros hits, como "Caso Sério", "Mal Social", outros cinco discos e abriu shows para monstros do gênero, como Deep Purple, Nazareth e Jethro Tull.
CLIQUE AQUI PARA OUVIR GOLPE DE ESTADO NA RÁDIO UOL
Nos anos seguintes, com as polêmicas saídas de Catalau e Paulo Zinner e a morte precoce de Hélcio Aguirra, a banda balançou, mas, graças à intervenção direta de alguns fãs, continuou na ativa. "Chegaram até a me ameaçar de morte, fiquei com medo", brinca o baixista Nelson Brito, o último remanescente da formação original.
Em entrevista, Nelson fala sobre o disco mais recente, "Direto do Fronte", o relançamento da discografia da banda pela Substancial e a polêmica saída do vocalista Catalau, que hoje é pastor em uma igreja evangélica.
Antes de falarmos sobre a trajetória do Golpe e o trabalho mais recente da banda, queria matar uma curiosidade: é verdade que o primeiro disco do Golpe tinha dois lados com rotações diferentes?
É verdade (risos). O produtor Luiz Calanca (dono da Baratos Afins) queria experimentar algo diferente no disco e a gente topou, até porque a qualidade do som em 45 rotações fica melhor. O problema é que, no começo, algumas rádios não se deram conta e as músicas só chegavam até a metade (risos).
Aliás, como surgiu a Baratos Afins na história do Golpe?
O Luiz [Calanca] era muito amigo do Hélcio [Aguirra], pois já tinha produzido o Harpia (antiga banda do guitarrista). Aí convidamos para um show que faríamos com a Platina (banda que depois viraria o Dr. Sin), nos anos 80, e ele gostou pra caramba.
Vocês gravaram dois discos por lá…
Sim, o primeiro em 86 e o 'Forçando a Barra', em 88. Este segundo, aliás, foi um dos mais vendidos da gravadora na época. Fez um enorme sucesso.
Quem desenhou as capas?
O Chico Guerreiro, um grande amigo do Hélcio. Ele morava perto da estação da Luz e usou o lugar como inspiração para a primeira a capa. Já no 'Forçando a Barra' a inspiração veio do antigo Black Jack (bar em São Paulo).
Após esses dois primeiros álbuns o Golpe vai para a Eldorado…
Sim, lá gravamos três álbuns: "Nem Polícia Nem Bandido" (1989), "Quarto Golpe" (1991) e "Zumbi" (1994).
O que mudou nesta época?
Principalmente a divulgação. A gravadora fazia parte do Grupo Estado. No lançamento de "Nem Polícia e Nem Bandido", por exemplo, o Estadão e o Jornal da Tarde publicaram um anúncio no caderno de política alertando: "O Golpe vem aí". Todo mundo ficava querendo saber o que era aquilo. Quando saiu o disco, aparecemos nos cadernos de cultura de ambos e ainda percorremos todos os programas de TV da época.
Nessa época vocês abriram shows importantes, como Deep Purple, Nazareth, Jethro Tull… Como foi a experiência?
A banda foi muito bem. Em alguns shows tocaríamos por apenas 30 minutos e a banda pedia para a gente ficar mais. Aconteceu isso no Deep Purple e no Jethro Tull.
Como era o cenário nos anos 1980 e 1990?
Existiam muitos lugares médios legais, como Dama Xoc, Aeroanta, Olympia. Era legal, porque contavam com a estrutura de lugares grandes, mas para um público menor.
Por que você acha que fecharam?
Por vários motivos, mas um deles foi o crescimento das bandas cover. Elas mataram em parte o trabalho autoral.
Como está o Golpe hoje?
Continuamos na ativa. Fizemos Virada Cultural, aniversário de SP, apresentações no interior. Ficamos mais seletivos: preferimos esperar shows maiores, com estrutura bacana, do que tocar em bares por aí, sem a mínima condição. A não ser em ocasiões especiais.
Hoje você é o único membro original da banda. O Catalau e o Paulo Zinner saíram e o Hélcio morreu…
Catalau
O Catalau não estava muito bem de 'saúde'. Já quase não aparecia nos ensaios, nas gravações e, quando aparecia, estava doidão. Nós temíamos que acontecesse algo ruim e pedimos para ele sair e ir se cuidar. A nossa história era muito bacana e não dava para virar 'a banda que perdeu o vocalista de forma trágica'. Hoje o Catalau está muito bem na igreja. De vez em quando nos falamos e vou até lá. Está fazendo um trabalho bonito de aconselhamento com crianças e pessoas que sofrem com vícios, etc. Fico feliz por ele.
Paulo Zinner
Acho que ele já estava de saco cheio fazia um tempo e aí um dia estourou, pegou as coisas e foi embora. Queria seguir a carreira em outro lugar.
Hélcio Aguirra
Saber da morte do Hélcio foi um choque. O cara não bebia, não extrapolava… Sofria de pressão alta, mas não achava que fosse tão grave. Na época pensei em parar, mas meus amigos me incentivaram a continuar. Alguns até me ameaçaram de morte (risos).
Fala um pouco sobre o 'Direto do Fronte', álbum mais recente, que ainda contou com Hélcio Aguirra na guitarra.
O álbum está com a assinatura bem marcante do Golpe. O Dino [Linardi] inclusive tem um estilo bem parecido com o do Catalau. E não foi nada pensado, porque ele é bem mais novo. Pura coincidência.
Como acharam o Tadeu, novo guitarrista?
O pai dele trabalhava no SBT quando a gente fazia o Programa Livre e ficamos amigos. Ele era bem pequeno e já assistia aos ensaios da banda. Mais tarde virou guitarrista consagrado, tocou com nomes importantes, até que um dia nos encontramos e fiz o convite. Está aí com a gente.
Quais os próximos do Golpe?
Temos uns shows confirmados no Sesc, mas ainda não sei as datas. Esse ano quero gravar uns compactos também. Enfim, a carreira segue.
Cadu Ramos
Do UOL, em São Paulo
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.