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Conheça a história da mistura do rock com a música eletrônica

UOL Música

15/05/2015 21h55

Reinaldo Canato/UOL

Crédito: Reinaldo Canato/UOL

Trent Reznor, vocalista e líder dos Nine Inch Nails está completando meio século de vida. Muitos deles foram dedicados ao rock industrial, gênero híbrido entre rock e a música eletrônica que ele ajudou a popularizar e influencia até hoje ao produzir artistas como Marilyn Manson e How to Destroy Angels.

Isso tudo além de continuar compondo, com o Nine Inch Nails, canções como "Came Back Haunted" e "Copy of a", lançadas no mais recente álbum, "Hesitation Marks", de 2013.

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Mas se você imagina que ele foi o primeiro músico a acrescentar elementos eletrônicos ao rock, saiba que as origens dessa receita remontam ao início da década de 1960.

beatles 1970

Em 1961, a faixa "Runaway", do cantor norte-americano Del Shannon, figurou no primeiro lugar das paradas por quatro semanas e foi uma das cinco mais executadas do ano nos Estados Unidos. O grande destaque da composição era o solo tocado no musitron, uma espécie de teclado eletrônico construído por seu tecladista, Max Crook. Vários instrumentos do tipo foram feitos artesanalmente por músicos entre os anos 40 e o início dos anos 70, quando os sintetizadores ganharam mais destaque.

Apesar da ascensão meteórica como os reis do "iê iê iê", os Beatles não se contentaram em ser a banda mais popular do mundo e iniciaram sua fase psicodélica em 1966, com o álbum "Revolver". Um dos pontos altos do disco é "Tomorrow Never Knows", uma faixa construída a partir de experimentações com gravadores de fita, criando de maneira semelhante à que seria desenvolvida de forma digital nas décadas seguintes. Na época da gravação de "Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band", os Beatles utilizaram muito o mellotron, espécie de proto-sintetizador analógico que funcionava como um teclado, mas, ao invés de notas, tocava o som de fitas pré-gravadas a cada tecla pressionada.

Algo parecido foi feito no "Álbum Branco", na polêmica faixa "Revolution 9", composta inteiramente de colagens sonoras. Isso se tornaria comum décadas depois com a criação do sampler, apetrecho digital que grava e reproduz amostras sonoras. Além disso, as primeiras experiências solo dos Beatles foram a trilha sonora "Wonderwall Music", de George Harrison, feita para o filme "Wonderwall" em 1968, e composta por sintetizadores e por alguns elementos de música oriental, especificamente indiana. Os dois primeiros discos de John Lennon em parceria com a esposa Yoko Ono, "Two Virgins" (1968) e "Life With the Lions" (1969) também continham experimentações com fitas tocando em loop e muitos efeitos sonoros como reverbs, delay e distorções.

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beach boys

Formada em 1967, a banda The United States of America, obviamente americana, fazia rock psicodélico com instrumentos diferentes dos tradicionais encontrados na maioria dos grupos do outro lado do Atlântico. O grupo se utilizava do calíope (uma espécie de órgão que manipulava gases em seu interior para produzir sons), um modulador de som, além de violino, bateria e baixo elétricos. Ainda no final da década, o teremim foi muito utilizado. Esse instrumento russo não demanda contato físico do músico e emite sons dependendo da posição das mãos em relação à sua antena. Os Beach Boys se utilizaram dele em "Good Vibrations", e o Led Zeppelin usava uma variação do teremim para tocar "Whole Lotta Love" e "No Quarter" ao vivo.

Nos anos 70, o rock progressivo entrou em cena e o sintetizador se tornou um dos instrumentos mais populares do rock, utilizado para experimentações em estúdio e nos shows. Rick Wakeman, do Yes; Keith Emerson, do Emerson, Lake and Palmer; Richard Wright, do Pink Floyd; e Peter Hammill, do Van Der Graaf Generator, foram alguns dos tecladistas que estiveram na vanguarda e ajudaram a moldar, com sua virtuose e inventividade, esse gênero tão difícil de definir e apreender, levando para o rock uma mistura de música eletrônica e erudita. Wakeman e Emerson chegaram até a ajudar a desenvolver a tecnologia da época junto à Moog, fabricante de sintetizadores e instrumentos eletrônicos.

Crédito: Reuters

Crédito: Reuters

Enquanto isso, na Alemanha, acontecia uma revolução musical apelidada posteriormente de krout rock. Bandas com formato roqueiro levavam o experimentalismo iniciado pela psicodelia inglesa às últimas consequências. Algumas dessas bandas, como Tangerine Dream e Kraftwerk adicionaram sintetizadores à mistura até criarem uma música inteiramente eletrônica. O Kraftwerk começou de fato como uma banda de rock, mas à medida que foi acrescentando elementos eletrônicos em suas incursões, modificaram tão estruturalmente a sonoridade do rock que já não eram mais enquadradas no gênero. A canção "Autobahn" (1974), do Kraftwerk, foi um sucesso internacional e é considerada o chute inicial do pop eletrônico que nós conhecemos hoje em dia.

No final da década, algumas bandas começaram a misturar os sintetizadores e baterias eletrônicas do Kraftwerk com a energia do punk. Na França, o metal urbain começou já em 1976 à tocar punk rock furioso com a ajuda de baterias eletrônicas e sintetizadores. Na Inglaterra, o Throbbing Gristle criava, na mesma época, o que vieram a chamar de música industrial, reproduzindo com guitarras, instrumentos de percussão e parafernália eletrônica os ruídos da vida moderna. Já nos EUA, o Devo fez à sua maneira algo semelhante misturando sintetizadores e experimentalismo com a base punk/new wave e um conceito geral baseado na "desevolução da espécie humana", criticando de maneira bem humorada a sociedade de consumo e as mazelas da sociedade pós-industrial.

Crédito: Reinaldo Canato/UOL

Crédito: Reinaldo Canato/UOL

Nos anos 80, os sintetizadores e baterias eletrônicas tomaram de assalto as paradas de sucesso. A música pop virou praticamente sinônimo de teclados eletrônicos e apetrechos do gênero, em grande parte por influência da chamada "Nova Invasão Britânica" de grupos new wave como Human League, Depeche Mode e Duran Duran. Outro nome importante foi o New Order. Continuação da icônica banda pós-punk Joy Division, foi digitalizando suas canções cada vez mais até chegarem ao clássico "Blue Monday", um marco do pop eletrônico.

O rock em geral reagiu negativamente, já que os sintetizadores passaram a ser tão associados ao pop e à dance music. Porém bandas como o Big Black em Chicago, nos Estados Unidos, misturavam o peso do hardcore punk com a brutalidade mecânica das baterias eletrônicas. No fim dos anos 80, o Sigue Sigue Sputnik bebeu da fonte da música eletrônica e se utilizou de estética futurista mesclada ao punk e ao rockabilly para emplacar alguns hits, como "Love Missile F1-11", "21st Century Boy" e "Rio Rocks". Também de Chicago, o Ministry, inicialmente uma banda de tecnopop nos moldes britânicos, passaram a incorporar guitarras pesadas até se tornarem gigantes do rock industrial na virada para a década seguinte.

Crédito: Frazer Harrison/Getty Images

Crédito: Frazer Harrison/Getty Images

Os anos 90 vieram e, com eles, os Nine Inch Nails tiveram destaque com o rock industrial, que ajudaram a difundir amplamente, assim como o Ministry. Ambas as bandas angariaram uma legião de fãs com clipes divulgados pela MTV em seu auge. Com o sucesso, o vocalista Trent Reznor produziu artistas industriais como Marilyn Manson, expoente do rock e Saul Williams, do hip hop industrial. Na mesma época, surgiram Atari Teenage Riot na Alemanha, que unia uma estética e atitude anarquistas às batidas furiosas e vocal punk na receita já tradicional da música eletrônica; e The Prodigy, que foi uma das precursoras do chamado big beat. O gênero mescla os loops gerados por sintetizadores característicos do acid house aos elementos de rock industrial, punk, hip hop e drum and bass.

O Muse surgiu ainda nos anos 90, mas lançou o primeiro álbum apenas em 1999. Eles foram responsáveis por uma retomada do art rock da década de 1970, em busca de um som mais progressivo do que as bandas mais comerciais que já haviam se instalado com a mistura de rock e eletrônico. A influência do Muse ainda segue forte, especialmente no indie rock e no britpop contemporâneos, protagonizados por bandas como The Killers, Franz Ferdinand, Kaiser Chiefs, Kasabian, Interpol e Paramore. O pop punk melódico também incorporou elementos eletrônicos, embora não sistemáticos, em sua sonoridade, representado por bandas como Fall Out Boy, My Chemical Romance, Thirty Seconds to Mars e Panic! At The Disco.

Existem também bandas essencialmente eletrônicas que apresentam alguns elementos de rock, fazendo o caminho inverso, como o Justice, que explora um rock pauleira com guitarras mais pesadas e distorcidas aliadas à sonoridade eletrônica. O som do I Fight Dragons, fundado em Chicago, em 2009, remete aos videogames da era 8-bit, mas mescla guitarras de rock à game music e ao nintendocore para criar composições autorais com ruídos característicos de jogos.

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