A história dos músicos andróginos, de Liberace e Little Richard a Lady Gaga
Não é de hoje que os artistas se utilizam da androginia para deixarem mais flexíveis as barreiras entre os gêneros e fazer as pessoas refletirem sobre suas próprias condições. Se Lady Gaga e Miley Cyrus subvertem a sexualidade no século 21, é porque o caminho foi aberto por corajosos pioneiros nos anos dourados da música pop.
Relembre conosco alguns dos nomes que fizeram história virando do avesso as noções tradicionais de homem e mulher.
Liberace
Com figurinos extravagantes e visual exuberante, Liberace foi um grande pioneiro da androginia quando ela ainda nem era conhecida pelo público em geral. O pianista americano fez sucesso a partir dos anos 50 com um programa de TV próprio, no qual exibia seus modelitos que fugiam completamente dos padrões da época. Mesmo maquiado, coberto de ouro, pedras preciosas e lantejoulas, grande parte do público não suspeitava que o artista fosse homossexual. Em 2013 foi interpretado pelo ator Michael Douglas no premiado filme "Behind The Candelabra", que retrata seu problemático relacionamento com o treinador de animais Scott Thorson na década de 70.
Little Richard
O primeiro grande astro do rock a desafiar as tradições conservadoras foi o irreverente Little Richard, citado como referência para outros artistas andróginos como Prince. Além do rock and roll furioso, o cantor e pianista também chocava a sociedade norte-americana da década de 50 com sua sexualidade à flor da pele, se fazendo valer de maquiagem, ternos chamativos, cabelos exuberantes e maneirismos que insinuavam sua bissexualidade.
Curiosamente, teve uma experiência mística durante uma turnê austrália em 1957 e retornou à igreja, onde havia começado a cantar. Durante o início da década de 60, adotou roupas modestas e se tornou pastor e cantor de música gospel. Até que cedeu à tentação, retornando aos palcos roqueiros em 1962, de onde nunca mais saiu.
Ney Matogrosso
Alguns dizem que os Secos & Molhados serviram de inspiração para grupos como Kiss, outros duvidam. O que é indiscutível é que Ney Matogrosso foi um pioneiro da androginia no Brasil e um dos primeiros artistas a se apresentar com o rosto pintado, assim como Alice Cooper e Arthur Brown já faziam em outras terras.
A diferença é que Ney se fazia valer da voz aguda, da dança e das técnicas teatrais em cima do palco, desafiando o moralismo vigente, a ditadura militar e a censura, que não conseguiam entender um dos maiores fenômenos do pop nacional até então.
David Bowie
O camaleão do rock assumiu diversas formas ao longo de sua carreira, muitas vezes adotando roupas e cabelos tradicionalmente femininos, especialmente durante o início dos anos 70. Na capa do álbum "The Man Who Sold The World", de 1970, Bowie aparece de cabelos compridos e um vestido. Sua androginia foi se apurando até que em 1972 criou o personagem Ziggy Stardust, um extra-terreste sem sexualidade definida que ia além de qualquer noção terráque de diferença entre os gêneros.
Hoje, aos 68 anos, o cantor continua brincando com a androginia. Em um clipe recente, "The Stars (Are Out Tonight", Bowie contracena com Tilda Swinton, de "Grande Hotel Budapeste" e "Crônicas de Nárnia", famosa também por se parecer com ele.
Prince
Com alguma influência da fase mais liberal de Little Richard, Prince é um dos artistas que desafiaram as normas padrão a partir do final dos anos 70. Com seu visual ambíguo e extravagante e amplitude vocal que o faz ter agudos impressionantes, se tornou um dos principais artistas do pop na década de 80, com uma sonoridade igualmente difícil de definir, misturando pop, funk e rock como poucos.
Boy George
Um dos ícones da androginia nos anos 80, o líder do Culture Club foi dono de sucessos que embalaram muitas paixões de todas as formas. Seu visual levou às massas o movimento britânico new romantic, que reagiu à imagem carrancuda do punk trazendo de volta ao cenário pop as plumas, paetês e hedonismo que haviam se perdido.
Lenny Kravitz
Apesar de seu imenso sex appeal para o público feminino, Lenny Kravitz tem um guarda-roupas enigmático, de onde tira as combinações mais inusitadas de roupas, como cachecóis gigantes ou botas de salto alto, intrigando as especialistas em moda.
Cássia Eller
Uma das artistas mais irreverentes e ousadas da MPB e do rock nacional, Cássia Eller se tornou uma espécie de equivalente feminino de Ney Matogrosso. O que o cantor havia feito na década de 70, ela fez na de 90, quebrando tabus como uma artista feminina que se fazia valer sem pudores de posturas tradicionalmente masculinas que combinavam com sua voz rouca e assertiva.
Lady Gaga
Com um estilo sempre ousado e extravagante, Lady Gaga se tornou rapidamente um ícone da androginia. Seu visual exagerado foi peça chave para angariar uma grande fatia do público LGBT e se tornar uma espécie de estandarte, por mais que alguns setores desse público não a reconheçam como representante legítima da causa.
Adam Lambert
Vice-campeão do reality show American Idol em 2009, o americano Adam Lambert foi eleito para substituir ninguém menos que Freddie Mercury no Queen e se tornou uma referência do século 21 no que tange à androginia no rock. Graças a seu visual ousado, Lambert já foi chamado de Lady Gaga masculina e mantem acesa a chama da androginia nos dias atuais.
André Cáceres
Rádio UOL
8 Comentários
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Bill Kaulitz, do Tokio Hotel...
Tenho medo de acordar qualquer dia desses e ouvir alguém dizendo que além de não sermos homens nem mulheres, somos uma alface.