A morte de Stevie Ray Vaughan há 25 anos foi o fim do blues?
Há 25 anos, a música passava por uma entre tantas tragédias. O último grande astro do blues faleceu ainda jovem, aos 35 anos, no dia 27 de agosto de 1990 num desastre de helicóptero saindo de uma apresentação ao lado de Eric Clapton. .
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SRV, como era chamado, era diferente dos outros guitarristas. Abusava de fraseados bonitos e cheios de feeling, que se destacavam pelo timbre característico, ao mesmo tempo forte e cristalino. As cordas extrapgrossas da Fender Stratocaster personalizada eram afinadas meio tom abaixo do padrão, adicionando peso ao som.
Com o trio Double Trouble (nome tirado de uma música do blueseiro Otis Rush), Vaughan fez história com pérolas de estúdio, como "Texas Flood" e "Couldn't Stand the Weather", mas eram suas performances ao vivo que o transformaram em um ícone, tamanha a habilidade e força com as quais o músico tocava.
Nunca vai surgir outro Stevie Ray Vaughan, último avatar de uma linhagem de guitarristas geniais que já havia gerado nomes como BB. King, Freddie King, Buddy Guy, Eric Clapton e Peter Green, cada um à sua maneira.
O perigo é que não surja mais nada. Por isso, o UOL Música Deezer lança o debate: o blues morreu junto com Stevie?
Das plantações de algodão ao estrelato
Criado pelos escravos americanos no século XIX, o blues surgiu ao mesmo tempo como uma maneira de retratar a tristeza de uma vida de quem sofria na pele com o racismo e a pobreza e também como um antídoto para esquecer destes problemas através do ritmo dançante e das letras de cunho sexual.
Na década de 20, a popularidade do estilo no sul dos Estados Unidos atraiu a atenção das gravadoras e logo surgiram nomes eternos como Bessie Smith, Blind Lemmon Jefferson e Robert Johnson.
Este último é famoso também por causa de um suposto pacto com o diabo e pela morte nas mãos de um marido traído. Histórias como estas ajudaram a construir a imagem dos bluesmen como gênios renegados e cheios de tormentos pessoais que atravessou gerações, chegando até Stevie Ray Vaughan.
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Evolução
Nos anos 30 e 40, o gênero se urbanizou. De um lado, se sofisticou com elementos do jazz e do pop, gerando o dançante rhythm & blues de selos como a Atlantic. Do outro, adicionou decibéis e malícia à fórmula através das guitarras elétricas do blues de Chicago.
Nas décadas seguintes as combinações e recombinações destes subgêneros trouxeram à baila o rock and roll de Chuck Berry, Elvis Presley e companhia e o blues britânico dos Rolling Stones, Yardbirds e outros artistas que utilizariam a base vinda de Chicago para criar o rock pesado.
Nos Estados Unidos, toda uma geração de bandas de garagem surgiria na década de 60 descobriria as raizes da música de seu próprio país através de artistas britânicos inspirados no blues. Estas bandas evoluiriam para caminhos diversos gerando o que vieram a ser o punk e o heavy metal na década seguinte.
E, finalmente, nos anos 80, Stevie Ray Vaughan, filho legítimo desta geração vinda das garagens, reinventou o gênero sem pervertê-lo. Ao mesmo tempo purista e inovador, trouxe à MTV o gênero surgido nas plantações de algodão do Mississippi e se tornou o último verdadeiro astro do blues.
O blues "contemporâneo"
Desde a morte de Vaughan, o blues não encontrou alguém para ocupar um lugar de grande destaque. Os maiores símbolos da geração anterior de guitarristas que revitalizaram o gênero vivem de maneira geral, de lançamentos isolados e reciclagens de clássicos.
Alguns guitarristas jovens continuam fazendo sucesso, como Joe Bonamassa, Gary Clark Jr. e o espetacular Derek Trucks. Mas, comercialmente, não atingem as massas e, artisticamente não são capazes de fazer o gênero evoluir e influenciar a cultura popular de maneira significativa.
Jack White – a exceção que confirma a regra
Ainda assim, muitos jovens de hoje continuam ouvindo blues. A maioria, no entanto, sem saber. O culpado é Jack White, que a com a partir do sucesso do White Stripes na virada da década de 2000 revitalizou a simplicidade e o estilo cru do gênero no contexto do indie rock.
John Mayer é outro nome importante que flerta com o blues, mas num ambiente pop. Chegou a tocar com Eric Clapton e se apresentou no festival Crossroads. Seu sucesso no entando é consequência
O blues dificilmente ficará totalmente abandonado, por mais esquecido que seja pela grande mídia. Guitarristas amadores ainda se inspiram nos artistas consagrados do gênero e sempre tocarão os clássicos. Mas comercial e artisticamente, ainda há esperança?
Aparecerão novas bandas para levar o estilo às massas como os Rolling Stones e o Led Zeppelin? Surgirá outro guitarrista como Stevie Ray Vaughan para reinventar o blues? Ou ele sobreviverá apenas como uma relíquia do passado no museu da música pop?
Dê sua opinião: você acha que o blues morreu de vez ou ainda há esperança?
6 Comentários
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O Blues jamais morrerá, sempre ira servir como inspiração para o Rock e o aparecimento de uma nova geração de guitarristas.
Interessante post. A tradição de guitarristas certamente não acabou e muito possivelmente não acabará. Quando Jonny Lang envelhece surge Quinn Sullivan; quando guitarristas como Sue Foley e Debbie Davies "somem", surge Ana Popovic. E, sejamos sinceros: SRV é tão estranho ao público em geral quanto o desconhecimento de ser dele os solos em Let's Dance de David Bowie. SRV é um marco para os guitarristas da nova geração, que tinham nele uma mistura única de Albert Collins, King, Buddy Guy, BB, Otis Rush, Clapton, Freddie King, Lonnie Mack, Johnny Winter e, sobretudo, Hendrix, e talvez esteja aí o impacto de SRV. Ana Popovic, por exemplo, tem "Navajo Moon", uma cópia descarada, digamos, de Riviera Paradise de SRV. E não nos enganemos: Mayer é fã de SRV, mas faz concessões demais. Não é por ele que o blues não morrerá, e certamente não morrerá. Gente como Ronnie Earl ainda desfila sua guitarra por aí, ensinando a molecada.