LuKaSH resgata tema histórico com protagonista trans; veja

A trans Indianara Siqueira, eleitora vereadora da cidade do Rio de Janeiro, estrela o clipe de LuKaSH (Reprodução)

O diretor, ator e dramaturgo carioca Lucas Weglinski surge com o alter ego musical LuKaSH para criar um som psicodélico e experimental na faixa "HéLioGaBaaLo", cujo trailer acaba de ser lançado.

Resgatando a história do imperador romano Heliogábalo, que chocou a sociedade ao substituir senadores por mulheres filósofas, transformar um bailarino em chefe de exército, se casar com homens e mulheres e se vestir no dia-a-dia de mulher, LuKaSH cria um conto moderno obscuro.

"HéLioGaBaaLo" foi o 2º single do álbum "FoGo" e a 1ª composição de LuKaSH. "Ela veio inteira de uma vez, foi uma coisa incrível. Baixou melodia e letra ao mesmo tempo e corri e peguei o gravador", conta o artista.

Protagonista guerreira

A estrela do clipe é Indianara Siqueira, que vem se estabelecendo na cena política na luta pelos direitos dos Trans, Travestis e LGBTs. A história da protagonista teve início aos 12 anos, quando começou a tomar altas doses de hormônios femininos, e logo fugiu de casa.

"Fui embora para São Paulo (SP). Fui estuprada por policiais em uma batida policial na pensão/hotel onde morava… O dinheiro que levava logo acabou. Dormi nas ruas. Comi o que caia nos caminhões que abasteciam o Mercado de São Paulo", escreveu Indianara em um post no Facebook, onde conta a sua história.

Já em Santos, acabou se juntando com algumas travestis que a acolheram. "Lá, dormindo na rua, conheci as travestis putas que me acolheram e me deram um poste onde trabalhar na esquina", escreve. "Em 1995, me tornei presidente fundadora do Grupo Filadélfia de Travestis e Liberados da baixada santista […] Em 96, na IV Conferência Municipal de Saúde de Santos, pautamos o nome social para transvestigeneres (travestis, transexuais e transgêneres) oficialmente pela primeira vez no Brasil", completa.

Há 20 anos na luta pelos direitos dos transvestigeneres, Indianara ainda escreve sobre as últimas eleições, quando teve 6166 votos mas não foi eleita: "Das 25 candidaturas transvestigeneres do PSOL, 4 se tornaram vereadores suplentes [quando recebe votos, mas não consegue se eleger]. Passamos um recado: estamos e ficaremos em todos espaços que nos forem negados. Essa minha suplência por todos é uma vitória de todes corpos de transvestigeneres que tombaram por mim. Que sobreviveram por mim. Que tombaram ao meu lado. Pelos corpos que poderão dizer: 'sim, podemos porque eles e elas puderam".